São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Governo define criação de emprego como prioridade

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A criação de emprego é a prioridade número 1 do governo federal para 1996, de acordo com a análise do cenário econômico 95/96 feita na quarta-feira, em reunião entre a equipe econômica e o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Para atender à necessidade de criar empregos, o governo vai lançar uma série de programas setoriais com um duplo objetivo:
1 - Oferecer compensações aos setores que foram mais atingidos pela política econômica praticada desde a adoção do Plano Real, em 1º de julho de 94.
O primeiro desses programas já foi anunciado na quinta-feira pelo ministro do Planejamento, José Serra: a liberação de R$ 717 milhões para o financiamento da casa própria a pessoas com renda entre 3 e 12 salários-mínimos.
A construção civil, obviamente estimulada por esse tipo de programa, registrou no mês passado, o pior nível de emprego dos últimos 15 anos.
2 - Será dada prioridade absoluta aos setores que utilizam mão-de-obra em grande quantidade (como é, de novo, o caso da construção civil).
A prioridade ao emprego fará com que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) inclua uma nova cláusula nos seus financiamentos para a modernização de empresas.
Como modernização acaba sendo, fatalmente, sinônimo de redução do quadro de pessoal, o BNDES condicionará seus financiamentos a um programa de retreinamento de funcionários que se tornarem dispensáveis.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, o presidente do BNDES, garante que essa cláusula se tornará tão indispensável quanto a que já se aplica hoje para o meio ambiente.
O cálculo do governo é o de que a atividade econômica voltará a se expandir no ano que vem, com um crescimento entre 4% e 5% do PIB (Produto Interno Bruto, ou toda a riqueza produzida num país num dado período).
Retração
É um número parecido com o registrado nos primeiros nove meses de 95 (5,3%). Mas esse resultado se deveu ao explosivo crescimento do primeiro trimestre, já que, de abril para setembro (os dois trimestres seguintes), a economia se contraiu (5,35%).
Crescimento econômico sempre gera mais empregos, mas o governo suspeita que o efeito não é nem imediato nem homogêneo nos vários setores da economia.
Daí a necessidade de programas setoriais de emergência.
É muito provável também que a decisão de estimular o emprego também se ampare em um cálculo político-eleitoral.
No ano que vem, haverá eleições municipais e os dois fatores econômicos que mais costumam pesar na hora do voto são inflação e emprego/desemprego.
Como não há inquietação alguma sobre a inflação para 1996 (o governo imagina um índice anual de entre 10% e 12%), resta atacar a questão do emprego.
Mas a Folha não pôde apurar se esse cálculo político-eleitoral foi ou não mencionado durante a reunião de quinta-feira.
Parte da expectativa de retomada do crescimento se deve à redução da taxa de juros para 1996.
Há, no governo, quem ache que o governo errou a dosagem dos juros, na tentativa de conter o consumo, a partir da explosão do final de 94 e do primeiro trimestre de 95.
"A dose foi muito maior do que seria necessário para estabilizar o crescimento da economia", diz Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Ele próprio justifica o erro de dosagem do governo: "Usar a política monetária para regular a demanda não é como sintonizar o rádio numa determinada estação. Pode-se errar para mais ou para menos e foi preferível, no caso, errar para mais".

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