São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Governo define criação de emprego como prioridade
CLÓVIS ROSSI
Para atender à necessidade de criar empregos, o governo vai lançar uma série de programas setoriais com um duplo objetivo: 1 - Oferecer compensações aos setores que foram mais atingidos pela política econômica praticada desde a adoção do Plano Real, em 1º de julho de 94. O primeiro desses programas já foi anunciado na quinta-feira pelo ministro do Planejamento, José Serra: a liberação de R$ 717 milhões para o financiamento da casa própria a pessoas com renda entre 3 e 12 salários-mínimos. A construção civil, obviamente estimulada por esse tipo de programa, registrou no mês passado, o pior nível de emprego dos últimos 15 anos. 2 - Será dada prioridade absoluta aos setores que utilizam mão-de-obra em grande quantidade (como é, de novo, o caso da construção civil). A prioridade ao emprego fará com que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) inclua uma nova cláusula nos seus financiamentos para a modernização de empresas. Como modernização acaba sendo, fatalmente, sinônimo de redução do quadro de pessoal, o BNDES condicionará seus financiamentos a um programa de retreinamento de funcionários que se tornarem dispensáveis. Luiz Carlos Mendonça de Barros, o presidente do BNDES, garante que essa cláusula se tornará tão indispensável quanto a que já se aplica hoje para o meio ambiente. O cálculo do governo é o de que a atividade econômica voltará a se expandir no ano que vem, com um crescimento entre 4% e 5% do PIB (Produto Interno Bruto, ou toda a riqueza produzida num país num dado período). Retração É um número parecido com o registrado nos primeiros nove meses de 95 (5,3%). Mas esse resultado se deveu ao explosivo crescimento do primeiro trimestre, já que, de abril para setembro (os dois trimestres seguintes), a economia se contraiu (5,35%). Crescimento econômico sempre gera mais empregos, mas o governo suspeita que o efeito não é nem imediato nem homogêneo nos vários setores da economia. Daí a necessidade de programas setoriais de emergência. É muito provável também que a decisão de estimular o emprego também se ampare em um cálculo político-eleitoral. No ano que vem, haverá eleições municipais e os dois fatores econômicos que mais costumam pesar na hora do voto são inflação e emprego/desemprego. Como não há inquietação alguma sobre a inflação para 1996 (o governo imagina um índice anual de entre 10% e 12%), resta atacar a questão do emprego. Mas a Folha não pôde apurar se esse cálculo político-eleitoral foi ou não mencionado durante a reunião de quinta-feira. Parte da expectativa de retomada do crescimento se deve à redução da taxa de juros para 1996. Há, no governo, quem ache que o governo errou a dosagem dos juros, na tentativa de conter o consumo, a partir da explosão do final de 94 e do primeiro trimestre de 95. "A dose foi muito maior do que seria necessário para estabilizar o crescimento da economia", diz Luiz Carlos Mendonça de Barros. Ele próprio justifica o erro de dosagem do governo: "Usar a política monetária para regular a demanda não é como sintonizar o rádio numa determinada estação. Pode-se errar para mais ou para menos e foi preferível, no caso, errar para mais". Texto Anterior: Juros e déficit público são desafios para 96 Próximo Texto: Desemprego deve crescer Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |