São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Músico precisa ter mais de um trabalho

CARLA ARANHA SCHTRUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Ser músico profissional significa ter mais de um trabalho. Até se tornar um nome conhecido, o candidato à carreira tem de suar a camisa, trabalhando em vários grupos. Apresentações em casas noturnas também fazem parte da atividade de um músico.
O profissional pode ser compositor, instrumentista, cantor ou arranjador (define a participação de cada instrumento na música).
Tem também a opção de ser professor. Encontra emprego em escolas de primeiro e segundo graus ou em conservatórios.
Pode também dar aulas particulares. Nesse caso, a hora de trabalho custa, em média, R$ 25.
Para manter o sustento, muitos músicos também se valem da publicidade.
"Fazer 'jingles' e trilhas sonoras para comerciais pode garantir o sustento", diz o produtor musical João Marcello Bôscoli, 24, filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli.
As produtoras de som, que contratam músicos em regime de free-lancer, pagam em média R$ 1.500 por trabalho.
"Montar uma produtora é viável. Com R$ 15 mil dá para comprar um computador, um teclado e um gravador de estúdio. O difícil é conseguir cliente", afirma Guga Stroeter, 35, que toca vibrafone (instrumento muito usado em jazz) no grupo Heartbreakers.
Quem toca em bares ganha uma porcentagem (geralmente de 70%) sobre o "couvert" artístico.
Por apresentação, o cachê costuma ser de R$ 200 -em casas com capacidade para 50 pessoas.
"É pouco dinheiro. A quantia é dividida entre todos os músicos de um grupo", diz Wilson Sandoli, 65, presidente do Conselho Regional de São Paulo da Ordem do Músicos do Brasil.
Tocar com artistas famosos, como Djavan e Milton Nascimento, oferece uma remuneração maior. Por show, segundo Sandoli, o cachê médio é de R$ 500.
Segundo o percussionista John Boudler, 41, diretor do Instituto de Artes da Unesp, o caminho para o sucesso deve conciliar muito trabalho, dedicação e talento.
"O mercado é concorrido e, por isso, não basta ser apenas bom", afirma Boudler.
Cursos
Os melhores cursos de graduação, segundo os profissionais ouvidos pela Folha, são o da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e USP (Universidade de São Paulo).
Um curso novo é o da Faculdade Santa Marcelina, instituição de ensino particular.
"Como as outras faculdades da área, o vestibular tem prova prática", explica Gisela Nogueira, 36, coordenadora do departamento de música.
Na Unesp, onde o principal curso é de música erudita contemporânea, a relação candidato/vaga varia de 2,2 a 8.
O candidato tem de passar por uma prova prática, quando interpreta peças musicais.
"É interessante fazer faculdade. Mas, como dizia Tom Jobim, para se dar bem, a primeira coisa que o músico precisa saber é como descolar um contrabandista. Comprar instrumento em loja sai muito caro", diz João Bôscoli.

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