São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Norte-americanas enfrentam dupla jornada

PATRICIA EDMONDS
DO "USA TODAY"

A maioria das norte-americanas tem consciência de que sua vida doméstica se parece cada vez menos com o reino de perfeição de suas mães e lembra cada vez mais a rotina de trabalho de seus pais.
Na década de 60, apenas 30,5% das casadas tinham emprego. Em 1993, elas já eram 59,4%.
A porcentagem de mães que trabalham também cresceu -passou de 27,6% em 1960 para 67,5% hoje em dia.
Mas, apesar das mudanças de fora do ambiente doméstico, em casa suas responsabilidades não mudaram quase nada, segundo Juliet Schor, economista da Universidade de Harvard e autora do livro "A Norte-Americana Sobrecarregada".
"Essa afirmação é verdadeira mesmo quando a mulher contribui com mais da metade da renda familiar", diz.
Desde os anos 60, as mulheres têm contado com a ajuda de "poupadores de tempo", os eletrodomésticos, como máquina de lavar roupas e forno de microondas.
Mas isso não representa menos trabalho ou mais tempo livre, segundo Schor. Além das 40 horas semanais no emprego, a maioria das mulheres ainda trabalha de 25 a 45 horas em casa.
Para administrar melhor o problema, algumas preferem adiar casamento e filhos, enquanto outras desistem da carreira.
É o caso de Paula Johnson, psicóloga. Ela e o marido moravam em Seattle (capital do Estado de Washington, norte dos Estados Unidos). Trabalhavam em período integral para conseguir pagar escola particular para os filhos.
Mas eles se mudaram para uma cidade próxima, Bainbridge Island, onde seus filhos Sunni, 13, Bernt, 8, frequentam a escola pública. Paula passou a trabalhar apenas dois dias por semana.
Ela diz que em seu papel de dona-de-casa não é a rainha do lar como foi sua mãe -e que não deseja se tornar uma. Mas admite que geralmente se sente "de fora das emoções" do mundo do trabalho.
Paula pretende voltar ao trabalho, em período integral, quando as crianças crescerem. Sua intenção é trabalhar para ajudar a pagar a faculdade dos filhos.
Mas, mesmo trabalhando apenas meio período, ela enfrenta trapalhadas na vida diária, típicas de mulheres que precisam trabalhar fora e criar os filhos ao mesmo tempo.
Certa vez, correndo para o trabalho, Paula mandou o filho para a aula sem antes checar qual era o menu da escola.
Ele voltou para casa chateado. Afinal tinha levado seu almoço e era dia de cachorro-quente -a única comida servida na escola que ele realmente gosta.
"Tá legal. Atire em mim!", afirma a mãe, rindo. "O que se pode fazer?"
Desemprego
Após duas décadas de demissões em massa, fechamento de departamentos de empresas e "downsizing" (eliminação de níveis hierárquicos), muitos homens estão enfrentando o desemprego ou trabalhando menos do que gostariam na verdade.
Mas, por outro lado, alguns -embora em menor proporção- trabalham agora por um maior número de horas, segundo a economista Juliet Schor.
É o caso de Paul Harmon, 52, de São Francisco, que trabalha várias horas à noite como gerente de uma estação local de TV.
"A economia mudou. As coisas estão cada vez mais difíceis", diz. Em seu primeiro casamento, nos anos 60, ele ganhava a metade de seu salário atual, mas tinha tempo para levar a família para jantar fora durante a semana.
Agora, diz ele, mesmo contando com o bom salário de Wanda, sua atual mulher, "é quase impossível ter um emprego de horário comercial clássico e aproveitar melhor a vida".
Segundo a socióloga Kathleen Gerson, os homens da geração anterior à de Harmon assumiam a responsabilidade pelo sustento da família e, em troca, não participavam das atividades domésticas.

Tradução Carla Aranha Schtruk.

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