São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Pelé; Urinoterapia; Aborto; Nada para o social; Questões teológicas; Amigo particular; Cruzeiro; Contramão

Pelé
"Diz o bom senso que: 'Quando não temos nada a dizer, é melhor ficarmos calados'. Essa lição de sabedoria não permeia o pensamento de Josias de Souza, que perdeu a grande oportunidade de calar-se quando manifestou-se como um escrevinhador mequetrefe ao externar a subjetividade de sua ignorância sobre um assunto que não domina. Em artigo intitulado 'Um Farrakhan tupiniquim' (15/11), o articulista insinua que 'Pelé está mais para Farrakhan, o líder negro racista' (??), do que para Luther King'. 'Racismo é um sistema que afirma a superioridade de uma raça sobre outra', logo a insinuação de racista não cabe a Louis Farrakhan e muito menos a Pelé, uma vez que nem um nem outro compõem tal 'sistema'. Ambos estão, sim, trabalhando em um princípio de isonomia para derrubar 'toda teoria que leve a admitir, nos grupos raciais ou étnicos, qualquer superioridade ou inferioridade intrínseca capaz de atribuir a alguns o direito de dominar ou eliminar outros, pretensamente inferiores', segundo apregoa a Declaração Sobre Raça e Preconceitos Raciais, adotada na 20ª Sessão da Conferência Geral da Unesco, em 1978. Quanto à realização da 'Marcha a Brasília', tem-se o fato concreto da queda-de-braço encetada pelo movimento negro e outras formas organizativas para reivindicar modificações na situação da população negra e/ou afro-brasileira, base da construção do país, porém alijada e marginalizada dos benefícios socioeconômicos e político-culturais. A 'Marcha a Brasília' se configura, após o artigo de Josias de Souza, na 'onda negra', pois apavora os não-negros, reacionários, que gostariam de ver as coisas permanecerem como estão."
Adomair O. Ogunbiyi, coordenador do Movimento Negro Unificado, região ABCDMRP (São Bernardo do Campo, SP)

"O comentário de Josias de Souza (15/11) confunde os leitores da notícia a respeito do encontro entre os organizadores da "Marcha Zumbi dos Palmares Contra o Racismo, Pela Igualdade e a Vida" e o ministro extraordinário dos Esportes. O leitor de Josias, sem surpresa, pôde conferir, à pág. 1-5, que em momento nenhum Pelé aludiu à tese de que 'honestidade é monopólio dos negros'. No dia 20 o país vai se recordar do tricentenário da morte de Zumbi. Quem o diz é o presidente Fernando Henrique Cardoso, no pronunciamento veiculado pela Folha. Idealizada pelo Movimento Negro, a Marcha a Brasília construiu-se autonomamente e impôs-se como evento político principal do tricentenário. O gesto de Pelé ao encontrar-se com os dirigentes da Marcha e o discurso de Fernando Henrique Cardoso só registram o abalo sísmico que os passos próximos dessa Marcha provocam. A desconversa de Josias, menos meritoriamente, também."
Maria da Piedade Marques de Souza e Lunde Braghini, da Secretaria Nacional da Marcha a Brasília (Brasília, DF)

"Em meus 25 anos como leitor da Folha jamais identifiquei um artigo tão falacioso como o de Josias de Souza ao comentar as declarações do ministro Édson Arantes do Nascimento, o Pelé. A honestidade não é monopólio dos negros, mas -com certeza- não é também de alguns cronistas de plantão."
Helio Santos, do Núcleo de Estudos Interdisciplinares do Negro Brasileiro da USP (São Paulo, SP)

"Pelé foi um bom jogador de futebol. Alguns dizem que foi o melhor de sua época. Aposentado em seu esporte, bem ele faria se fosse para casa e ficasse curtindo a sua glória. Mas sem abrir a boca, pois quando se mete a fazer comentários sobre qualquer assunto, inclusive sobre futebol, só diz asneiras, e com isso deslustra a própria imagem."
Paulo Barretto (Franca, SP)

Urinoterapia
"O comportamento em termos de terapêuticas alternativas está ficando cada vez mais esdrúxulo, grotesco, preocupante e vergonhoso. Agora estão prescrevendo e usando urina para a cura das mais variadas doenças e os defensores do procedimento são, conforme li na Folha, sobretudo padres e freiras. Sinto-me envergonhado diante do que vem ocorrendo."
Vicente Amato Neto, chefe do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP, ex-secretário estadual da Saúde (São Paulo, SP)

Aborto
"Parabéns, senhores deputados, pela brilhante proposta de anular o nosso direito de abortar em casos de estupro ou risco de vida. O estupro será oficializado. Que o digam os deputados Hélio Bicudo, Philemon Rodrigues e Severino Cavalcanti, defensores da proposta indecente. É muito cômodo para os homens mexerem na lei do aborto porque eles não têm útero, não engravidam. Por favor, senhores políticos, evangélicos, católicos de plantão e cia: deixem nosso corpo em paz."
Emily R. Cardoso (São Paulo, SP)

Nada para o social
"Já vimos uma série de brutalidades como chacinas, extermínios, raptos de crianças pobres (para tráfico de órgãos), além da forma como as classes alta e média pressionam a polícia a tratar as regiões mais pobres com violência e sem respeito à cidadania. Agora vemos as classes altas organizarem uma manifestação pelo fim dos sequestros, mascarada de marcha contra todos os tipos de violências. Certamente o resultado será mais verbas para a polícia aumentar seu poder de repressão. Para o social, nada! Reage, Rio!"
Aguinaldo H. Guimarães Jr. (Rio de Janeiro, RJ)

Questões teológicas
"Assinante e leitor da Folha, estou estranhando a frequência com que colaboradores permanentes da mesma, como Josias de Souza, Carlos Heitor Cony e até o sr. diretor de Redação, Otavio Frias Filho, vêm se proclamando 100%, '99%' ateus e anticlericais. Têm o direito de o ser. Mas pelo menos deveriam ser mais modestos, não pontificando em questões teológicas e morais. Não são assuntos de sua competência e agridem pelo menos 95% dos seus leitores, que crêem em Deus e admiram o papel realizado, no Ocidente, pela Igreja Católica. Lamento profundamente que na reportagem 'Igreja de Jundiaí leva 10 mil a Aparecida', na Folha Sudeste (30/10), tenha sido atribuída a mim a tolice de afirmar: 'É uma forma de o povo católico mostrar que adoramos Maria, mãe do Criador, mas não veneramos imagens'. É o contrário. Estamos cansados de repetir que adoramos somente a Deus e que aos santos, às suas imagens, apenas prestamos um culto de veneração."
Amaury Castanho, bispo coadjutor de Jundiaí (Itu, SP)

Amigo particular
"O sr. Otavio Frias Filho afirmou, há algumas semanas, que 'Deus não existe'. Deve ser terrível para o sr. Frias viver sem esperanças, sonhos e ideais. Deve ser por causa dessa desilusão que ele chama a religião de 'anestesia espiritual'. Religião, sr. Frias, não é anestesia, é a relação do homem com um Deus que, como diz um professor que tive, 'existe, e é meu amigo'."
Marcio Antonio de Castro Campos (São José dos Campos, SP)

Cruzeiro
"A Folha, tão isenta na política, torce deslavadamente pelo futebol paulista. A Folha tem de entender que é nacional. Na edição de 9/10 os 'meninos dos Titãs' dizem que o Palmeiras foi o melhor time do primeiro turno. O único item em que o Palmeiras suplantou o Cruzeiro foi em gols contra. Um exemplo mais antigo: quando o Cruzeiro foi bicampeão da Supercopa, a Folha não deu nada, hoje esse campeonato é importante. Senhores Alberto Helena, Matinas Suzuki, Juca Kfouri e outros, mesmo contra suas vontades, o Cruzeiro é campeão!"
Marco Túlio Vieira Torres (Belo Horizonte, MG)

Contramão
"Covas começa a falar e fazer bobagem. 'A reforma vai melhorar o ensino e, com a racionalização da rede, organizar a jornada de trabalho do professor e dar mais recursos para salários e infra-estrutura'. Essa racionalização quer dizer o fechamento de escolas, como o Colégio Estadual Dr. Miguel Vieira Ferreira -Vila Medeiros, com aproximadamente 500 alunos, que no último fim-de-semana foi surpreendido com um mandado estadual para fechar. Este é o único país em que para melhorar o ensino fecham colégios."
Charles E. Truman (São Paulo, SP)

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