São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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Empresário apostou na fase desenvolvimentista de JK

DO BANCO DE DADOS

Adolpho Bloch, originariamente Abrasha Bloch, nasceu a 8 de outubro de 1908, em Jitomir, a 120 quilômetros de Kiev, capital da Ucrânia, filho de Josef e Ginda Bloch. O pai tinha uma gráfica nas duas cidades e orientou os três filhos homens (Adolpho, Arnaldo e Bóris) nas artes gráficas.
Aos nove anos, Adolpho assistiu aos primeiros pogrons contra os judeus e a Guerra Civil que se instalou em 1917, após a queda do czar. Durante o regime provisório de Kerenski, imprimiu o dinheiro que circularia nos primeiros tempos da Revolução Russa. Contudo, a condição de judeus fez com que, anos depois, os Bloch iniciassem a emigração, inicialmente em direção à Itália, mais tarde ao Brasil.
Ainda em Kiev, Adolpho tomou gosto não só pelas artes gráficas como pelo teatro, ajudando na impressão de cartazes e vendendo libretos com o resumo das óperas encenadas no teatro local.
Viajaram na terceira classe do "Re d'Italia", chegando ao Rio de Janeiro em 1922. Foram morar em Aldeia Campista (zona norte da cidade). Com os poucos recursos trazidos da Rússia, Josef Bloch instalou uma pequena gráfica. Adolpho estudava à noite no Colégio Pedro 2º e durante o dia batia o comércio procurando encomendas. Frequentava as redações do Rio, conhecendo boêmios, jornalistas e escritores.
O primeiro grande negócio para a firma foi obtido por Adolpho quando, na redação de "A Vanguarda", soube que um exportador precisava embalar laranjas num papel de seda especial. Nenhuma gráfica no Rio tinha condições de imprimir. Adolpho aceitou a encomenda, providenciou máquinas e tornou conhecida a gráfica dos Bloch.
Com a morte de Josef, seus três filhos, Adolpho, Arnaldo e Bóris, assumiram o comando da gráfica, e logo Adolpho revelou qualidades que o tornariam líder.
Em 1952, vencendo a resistência dos irmãos, lançou a revista "Manchete" -o que foi considerado um rasgo de loucura, uma vez que o mercado era pequeno e havia um gigante na praça, a revista "O Cruzeiro", que tirava 700 mil exemplares por semana.
Os primeiros anos de "Manchete" foram difíceis, embora a revista reunisse uma equipe de jornalistas de primeiro time: Carlos Drummond de Andrade, Magalhães Júnior, Rubem Braga, Sérgio Porto, Lúcio Rangel, Vinícius de Moraes, Henrique Pongetti, Otto Lara Resende, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos.
Com o governo de Juscelino Kubitscheck e o início da construção de Brasília, Adolpho decidiu apostar tudo na onda de otimismo e desenvolvimento. A maior parte da imprensa continuava pessimista. Enviou uma dupla de repórteres e abriu a primeira sucursal jornalística no Planalto Central.
Simultaneamente, reequipou o parque gráfico e criou novas revistas, como "Fatos e Fotos", "Jóia", "Pais e Filhos", "Ele Ela", "Desfile", "Amiga", "Sétimo Céu" e outras.
A densidade de "Manchete com o programa das metas de JK fez com que o já então ex-presidente se aproximasse do editor, justamente no momento em que a política dava uma reviravolta e JK era cassado e obrigado a se exilar, sendo seu nome proibido de receber menção na imprensa.
Adolpho não tomou conhecimento da proibição e continuou a dar ampla cobertura e corajosa defesa a JK. Com o nascimento da primeira neta de Juscelino, em Portugal, Adolpho foi convidado a ser padrinho de batismo.
Em 1968, inaugurou a nova sede da sua editora, na Praia do Russel (zona sul do Rio), com três prédios projetados por Oscar Niemeyer. Ali funcionam as redações do grupo, emissoras de AM e FM, um museu, um teatro, além de restaurantes, piscina, ambulatório e salões de recepção.
A fidelidade a JK não impediu que "Manchete" se tornasse entusiasta do "Brasil Grande" que o regime militar promovia. No governo estadual do brigadeiro Faria Lima, Adolpho foi nomeado presidente da Fundação dos Teatros de Estado do Rio, quando realizou obras de restauração no Municipal e no João Caetano, construindo em tempo recorde o Teatro Villa Lobos.
Em 1983, inaugurou a Rede Manchete de Televisão, com equipamento sofisticado e buscando uma programação classe A. Os primeiros sete anos foram de sucesso, culminando com a apresentação das novelas "Kananga do Japão" (de uma idéia original sua) e "O Pantanal". Problemas de gerenciamento passaram a influir na programação, obrigando-o a vender a rede de televisão a um grupo paulista.
A IBF, que assumiu a "Rede Manchete", teve cassada a sua gestão pela justiça. Adolpho recebeu de volta o encargo de uma rede nacional, com os salários dos funcionários atrasados em seis meses. Pedindo um tempo aos empregados, ele conseguiu, em quatro meses, normalizar o pagamento da folha. Mas o esforço de caixa continuou repercutindo na programação.
Adolpho continuou lutando para equilibrar receita e despesa. Ao conseguir esse equilíbrio, nos meados deste ano, lançou uma nova novela, "Tocaia Grande", construindo uma cidade cenográfica em Maricá (RJ) ao preço de R$ 2 milhões.
Foi casado duas vezes: com Lucy Mendes Bloch e Ana Bentes Bloch. Não teve filhos. Foi condecorado com a Legião da Honra, da França, e com títulos honoríficos de diversos países. Publicou dois livros de memórias e artigos, sob o título "O Pilão".

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