São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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Gravação derruba ministro da Aeronáutica

DENISE MADUEÑO; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As suspeitas de tráfico de influência no Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) derrubaram o ministro da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Mauro José Miranda Gandra, 62. É o primeiro ministro a deixar o governo Fernando Henrique Cardoso, 11 meses depois da posse.
O caso já havia provocado a queda do chefe do cerimonial do Palácio do Planalto, embaixador Júlio Cesar Gomes dos Santos, na sexta-feira. A PF (Polícia Federal) gravou conversas telefônicas na residência do embaixador para investigar tráfico de influência.
Em uma das gravações, o embaixador discute com o dono da Líder Táxi Aéreo, José Afonso Assumpção, as dificuldades para aprovação no Senado de empréstimos de R$ 1,4 bilhão para o projeto de vigilância da Amazônia.
Assumpção é o representante no Brasil da Raytheon, empresa norte-americana escolhida para realizar a instalação do Sivam.
O trecho da gravação que provocou a saída de Gandra é o que faz referências à amizade do ex-ministro com o dono da Líder. "O ministro está bem. Ficou hospedado três dias aqui em casa", disse Assumpção a Júlio Cesar. O ministério de Gandra é o gestor do Sivam.
O substituto
A saída do ministro foi decidida ontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, durante encontro pela manhã no Palácio do Planalto. A reunião aconteceu antes da cerimônia em homenagem ao Dia da Bandeira, na praça dos Três Poderes.
FHC nomeou o tenente-brigadeiro Ulysses Pinto Correia Netto, chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, para ocupar o cargo interinamente. Ulysses Netto é o substituto natural, de acordo com a hierarquia da Aeronáutica.
O ex-ministro chegou ao palácio às 10h55 com a intenção de participar da solenidade, organizada por seu ministério.
Desistiu, depois de conversar com presidente, deixando o Planalto pela garagem.
Gandra deveria descer a rampa do Planalto acompanhando FHC, de acordo com o cerimonial da Presidência da República. A assessoria do presidente teria orientado Fernando Henrique a descer a rampa sozinho.
Segundo informações do Centro de Comunicação Social do Ministério da Aeronáutica, o ministro decidiu pedir demissão durante a conversa com o presidente.
Pela manhã, a assessoria de imprensa da Aeronáutica chegou a organizar uma entrevista coletiva onde o ministro explicaria o envolvimento de seu nome nas conversas gravadas pela PF.
Em nota oficial distribuída pela Aeronáutica, o já ex-ministro disse que pediu demissão inspirado "sobretudo na vontade de preservar o governo e a Força Aérea de polêmicas indesejáveis".
Gandra disse ainda que "pelo aspecto mais subjetivo da questão, o chefe militar não pode conviver com a dúvida no olhar de seu subordinado".
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse que FHC "lamentou profundamente" a saída de Gandra e que reconhecia a sua "colaboração competente, valiosa e invariavelmente leal".
A assessoria de imprensa da Aeronáutica informou que o ex-ministro é amigo de Assumpção antes de ocupar o cargo. Informou ainda que o ministro estava em Belo Horizonte para uma palestra e foi convidado pelo amigo para se hospedar em sua casa.
Troca desastrada
Além da ausência de Gandra no palanque oficial, a cerimônia do Dia da Bandeira quase não se realiza por causa de uma chuva que atingiu Brasília desde a madrugada. Por causa dela, foi cancelado o desfile aéreo com caças Mirage.
Outro incidente na festa ficou por conta da bandeira do mastro principal da praça dos Três Poderes. Por causa do vento, a bandeira velha enrolou-se no mastro e só desceu rasgada. A nova parou antes de chegar ao topo, depois de enroscar-se com a antiga.

LEIA MAIS
sobre o Sivam e a demissão de Gandra à pág. 1-6

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