São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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Salvar o Sivam é prioridade do governo

MARTA SALOMON; WILLIAM FRANÇA; XICO SÁ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A demissão do ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, foi a maneira encontrada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso de tentar salvar o Sivam (Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia) -um projeto de US$ 1,4 bilhão atingido por denúncias de tráfico de influência no governo.
A instalação de 19 radares na Amazônia é defendida pelo governo como um objetivo estratégico inadiável. "O programa precisa ser concluído com transparência de água de bica", afirmou o chefe de gabinete do Ministério da Justiça, José Gregori, amigo de FHC.
"O presidente está muito interessado em que o Sivam saia", contou a mulher do ex-ministro Mauro Gandra, Yara, num relato da conversa que definiu o afastamento de um dos maiores defensores do projeto do governo. Yara culpou "forças ocultas" contrárias ao Sivam de levarem à demissão de seu marido.
A permanência de Gandra poderia comprometer o projeto por causa do relacionamento do ex-ministro com o representante da Raytheon no Brasil, José Afonso Assumpção, dono da empresa de taxi aéreo Líder. Gandra se hospedou em agosto na casa do amigo.
As denúncias de tráfico de influência no projeto, que derrubaram em menos de 48 horas Mauro Gandra e o embaixador Júlio César Gomes dos Santos (ex-chefe da Coordenadoria de Apoio e Cerimonial do Planalto), complicaram, porém, as resistências políticas que o Sivam enfrenta no Senado.
O presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), avalia que os indícios de tráfico de influência tornaram mais difícil a aprovação do contrato do governo brasileiro com a norte-americana Raytheon, vencedora da licitação do Sivam.
Ao comentar com outros senadores o episódio da escuta telefônica, Sarney usou a seguinte expressão: "O Sivam foi para o espaço".
"Não temos prazo para aprovar", disse o senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos. Acusado pelo comandante José Afonso Assumpção, de estar "atrapalhando" o projeto, Miranda insiste que não tem pressa.
Embora concorde que a Amazônia precisa de um sistema de segurança e proteção, o senador alega que deve avaliar com cuidado os custos e a tecnologia definidos no projeto.
Pesquisa de preços feita por Miranda mostra que o governo poderia comprar os equipamentos por um preço menor. O senador foi aos EUA, Ucrânia e Rússia.
Obteve um documento com uma proposta dos russos oferecendo um sistema ao governo brasileiro por US$ 520 milhões.
O Senado chegou a aprovar, no final do ano passado, uma autorização para os empréstimos externos negociados para financiar o Sivam. Mas o contrato teve que ser refeito depois que a empresa Esca Engenharia, escolhida para gerenciar o Sivam, foi afastada do negócio. Desde agosto, o governo espera que o Senado aprove o novo contrato.
O governo não descarta uma revisão do Sivam, para livrá-lo de suspeitas. Logo depois da demissão de Gandra, o ministro Benedito Leonel, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, disse que o projeto de vigilância da Amazônia é de interesse nacional.
Mas Leonel defendeu que, antes de o governo prosseguir com o programa, é preciso fazer uma "análise ponderada" do Sivam. "Deve ser feita a análise de toda a problemática sob o aspecto administrativo e financeiro", afirmou.
O projeto de segurança da Amazônia é comandado pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos). O chefe da SAE, Ronaldo Sardemberg, estava ontem em Cuba.

Colaboraram WILLIAM FRANÇA, da Sucursal de Brasília e XICO SÁ, da Reportagem Local.

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