São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995 |
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Pombo-correio é para os filmes de mistério
MARCELO PAIVA
É possível. De um lado, um dos maiores pensadores brasileiros, nata de onde saiu o sonho de Euclides da Cunha, "uma ciência para o Brasil", pesquisando nossas contradições, sociedade de classes e subdesenvolvimento. Toda vez que leio sobre a resistência de pencas de pessoas à era do computador, os "neoluditas", me lembro da família Fernandes. Isso é ridículo. É evidente que a resistência não durará muito. É evidente que, no futuro, estaremos todos na rede, é evidente que o processo é irreversível, e para que complicar se podemos facilitar? Ou você prefere um pombo-correio a um correio eletrônico? Resistiram ao carro. Alguém ainda resiste? Resistiram à TV? Alguém ainda duvida da sua existência? Algum pai ainda proíbe os filhos de assisti-la? Alguém deixou de comprá-la, acompanhar sua programação e gastar horas em frente dela? O mesmo acontecerá com o computador. O Unibanco é o banco que mais se informatiza. Nas agências, são as máquinas e cartões magnéticos que trabalham, não os caixas. E, de casa, podemos fazer o impossível com um modem. Mas assisti a uma discussão entre a gerente e uma cliente idosa. Ela dizia que não sabia usar o cartão magnético e que tinha o direito a um atendimento à antiga. E, por mais que a gerente tentasse, a cliente teimava. O impasse sem solução. Uma velha geração vai ao sacrifício por uma nova era, e não há o que fazer. Maria Ercília, colunista da Folha, tocou numa ferida: "É mais difícil lidar com um computador que com o liquidificador ou o namorado". O problema é ele corresponder às suas expectativas. Este é o segredo: computador tem vida, personalidade, gênio e humor. Texto Anterior: Adolescentes judeus de SP querem paz Próximo Texto: Fernando Gomes, 17 Índice |
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