São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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Brasil vive bombardeio latino-americano

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nunca tivemos acesso a tantas imagens e notícias dos outros países da América Latina. Acreditando firmemente na autonomia do "Gigante", os brasileiros sempre ressaltaram suas diferenças para com os países vizinhos, preferindo se identificar com os anglo-saxões do Hemisfério Norte. A forte presença da língua espanhola, principalmente nos canais a cabo, ameaça essa prepotência.
Abundam notícias sobre os mais diversos países. E o terror é o tema dominante. Relatório da Anistia Internacional acusa a constante violação dos Direitos Humanos no México. Cita o assassinato de 17 camponeses, casos de tortura e desaparecimentos. O Cardeal de Guadalajara é morto a tiros.
Violência na Colômbia, atentado a uma delegacia e explosão de oleoduto. Há onda de sequestros de crianças no Chile, possivelmente relacionada ao tráfico de drogas.
A frequência de notícias sobre o Brasil vem aumentando nos canais de notícias de língua espanhola. Os correspondentes no Brasil relatam o clima de tensão causado pela onda de sequestros no Rio de Janeiro. Notícias de acertos de conta na base do tiroteio entre a polícia corrupta e os traficantes.
Esse olhar estrangeiro sobre o Brasil revela que não somos tão diferentes assim. Uma nacionalidade que supostamente emergiu baseada na cordialidade e na índole pacífica se vê misturada à instabilidade comum aos países de colonização ibérica.
Computador
A insistência com que o computador têm sido tema no jornalismo, na publicidade e na novela das oito da Rede Globo, sugerem que está em curso uma poderosa campanha integrada de marketing para popularizar o produto.
Popularizar quer dizer criar um público consumidor para o qual o mais sofisticado instrumento de ordenação se tornará em pouco tempo necessidade indispensável, mesmo que só para significar sintonia com a contemporaneidade.
A novela procura romantizar e domesticar a máquina. A propaganda da ATT salienta a dimensão de ficção científica. O "Jornal Nacional" capricha na escolha de matérias que demonstrem as utilidades do aparelhinho.
O computador é vendido como engenhoca capaz de sintetizar muitas outras, atiradas com agressividade da janela do edifício, como se elas se tornassem inúteis diante das novas modalidades em outro comercial. O "Globo Repórter" reforça a pauta já tão repetida.
O computador parece ser mais um elo de uma cadeia de publicidade pedagógica modernizante. Há que demonstrar didaticamente a utilidade de um produto que é novo e que pode facilitar o cotidiano.
É uma cadeia que vem de longe, dos comerciais do "Omo Branco Total". De Bombril a computador, essa espécie de "processo civilizatório" promovido pela propaganda convive com o terror disseminado nos interstícios das sociedades.

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