São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Fernanda Abreu faz show enferrujado
LUIZ ANTÔNIO RYFF
Foi o que se viu na estréia carioca do show "Da Lata", da cantora Fernanda Abreu, 34, sexta-feira, no Canecão, no Rio. Esperava-se mais da artista que melhor está fazendo a ponte entre a cultura funk das periferias e a classe média da zona sul carioca. A quantidade de pessoas sentadas nas mesas enquanto Fernanda requebrava as cadeiras no palco foi um indício de que a alquimia dançante tinha desandado. Talvez tenha faltado povão na platéia, já que boa parte do público era de convidados VIPs, de artistas globais a jogadores de futebol -entre eles Romário. O roteiro também não ajuda. O miolo do espetáculo é lento e o público se dispersa. Os oito músicos do show não honram o apelido de "a melhor banda de funk do Brasil", dado por Fernanda. Para tanto faltou muito, principalmente funk, a despeito da qualidade dos instrumentistas -destaque para o guitarrista Fernando Vidal. Até as aparições do violonista Lenine, do percussionista Marcos Suzano e do poeta Chacal passaram em brancas nuvens. É bem verdade que o principal "vilão" da história é o Canecão, com uma acústica lamentável. Um som embolado é "enriquecido" por diversas microfonias. Um problema que o Tom Brasil -onde Fernanda faz show a partir do dia 1º- não costuma apresentar. Há qualidades. Um ponto alto é o cenário -três paredões de lata com adornos inusitados, como hélices de ventilador, quentinhas e pás- feito por Luiz Stein. A iluminação e as coreografias são outros aspectos positivos. A vigorosa e sensual perfomance de palco de Fernanda encobre suas limitações vocais. Mesmo assim, ela está sabendo usar melhor a voz que tem. Autêntica "garota carioca suíngue sangue bom" de que fala a letra de uma de suas canções, Fernanda transmite simpatia suficiente para qualquer um relevar o uso de tamborim como adereço manual, logo na música que abre o show "Veneno da Lata". O repertório traz boas músicas. "Jorge de Capadócia" e "Brasil É o País do Suíngue" conseguiram animar o público. Mas o show só decolou no final, principalmente a partir do bloco disco que inclui "Rio Babilônia" -sucesso acertadamente desenterrado pela cantora no último disco- e "Assim Caminha a Humanidade", de Lulu Santos. No bis, Fernanda surge com um sutiã de frigideiras -usado como percussão- para cantar "É Hoje", samba-enredo da União da Ilha do Governador, encerrando 1h30 de espetáculo. Certamente, é um show que pode melhorar com ajustes e sendo apresentado em um local decente. LUIZ ANÔNIO RYFF viajou a convite da EMI Texto Anterior: Holocausto tem evento multimídia na USP Próximo Texto: Flamengo mostra como comprar infelicidade Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |