São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Justiça muda história e contradiz PF

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Justiça informou ontem que as denúncias de que o embaixador Júlio César Gomes dos Santos estava envolvido em tráfico de drogas chegaram ao próprio ministério e deram origem a um dossiê repassado depois para a PF (Polícia Federal).
Essa é uma nova versão para explicar como a PF teria obtido subsídios para pedir a autorização judicial para a escuta telefônica nos aparelhos do embaixador. Ela contradiz as anteriores divulgadas pelo próprio ministério e pela PF.
A PF se contradisse ao explicar o motivo da escuta. À Justiça, o delegado Mário José de Oliveira Santos afirmou que havia suspeita de tráfico de drogas. Em seu relatório, disse que era tráfico de influência.
Ontem o delegado procurou desfazer sua contradição, mas deu versão diferente da do Ministério da Justiça. Ele disse que recebia insistentes denúncias anônimas sobre tráfico de drogas.
"Aí (no relatório final) é que está o meu erro. Não fiz a crítica necessária a um relatório preparado por um analista que me assessora e levei a informação à frente", afirmou o delegado. "Era uma posição pessoal do analista, e eu caí nela."
Mário Santos disse que era ele mesmo quem atendia aos telefonemas, mas que não se lembrava se a voz era de homem ou de mulher.
O delegado diz que as denúncias eram de que um certo "JC" fazia tráfico de drogas. Foram dados ainda o endereço e os telefones de "JC", mas, segundo ele, sem a identificação de quem era.
Mário Santos disse que só identificou indícios de tráfico de influência nas conversas do embaixador depois que o juiz Irineu de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Entorpecentes do DF (que autorizou a escuta telefônica), decidiu suspender a escuta, no dia 21 de setembro, por não ter encontrado indícios de tráfico de drogas.
"O juiz disse que havia indícios de outros crimes que fugiam à competência dele e encaminhou essa orientação para a PF", disse o delegado.
Ouvido pela Folha, o juiz Oliveira Filho confirmou essa versão, mas não descartou a hipótese de que pode ter sido enganado para autorizar a quebra de sigilo.
Mário Santos afirmou que agiu dentro de suas atribuições. "Não extrapolei nenhuma norma interna."
Com a divulgação do seu relatório à imprensa, na semana passada, disse que procurou a direção da PF para "esclarecer tudo".

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