São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Participante quer cultivo da diferença étnica

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Priscilla Kruize, 57, presidente do Museu da Herança Negra de Miami, na Flórida (EUA), defendeu ontem o cultivo da diferença étnica -e o conhecimento "da beleza de cada cultura"- para melhorar as relações das pessoas.
Ela é uma das participantes do 1º Congresso Continental dos Povos Negros das Américas, que teve início ontem e vai até este sábado no Memorial da América Latina (centro de São Paulo).
Kruize foi ativista negra do Movimento pelos Direitos Civis nos EUA na década de 60 -quando foi presa várias vezes. Ela conta que o museu, montado a partir de 1987, é uma enorme coleção de elementos da cultura africana recolhidos pelo mundo. Sem espaço definido, essa coleção é apresentada em exposições nos EUA.
A idéia, segundo ela, é que o progresso da comunidade negra será estimulado com a consciência de sua herança cultural. A seguir, trechos da entrevista.
(FR)

Folha - Por que montar um museu sobre negros nos EUA?
Priscilla Kruize - Um museu sobre a herança negra na América -ou em qualquer lugar- introduz as pessoas à beleza dessa cultura. Ter uma coleção de coisas lindas que contam a história de um grupo étnico é educativo e constrói a auto-estima nesse grupo.
Folha - Ressaltando-se as diferenças étnicas, como dos negros, não se criam mais dificuldades para a integração dos povos?
Kruize - Não, muito pelo contrário. Minha idéia é que as diferenças são lindas, por isso usamos roupas diferentes, temos comidas diferentes. Ter respeito pelas diferenças não significa ter de ser daquela forma, mas que poderíamos ser daquela forma, que não há nada de errado com isso. Com respeito pelas diferenças teremos um mundo mais pacífico.
Folha - A senhora defende que a TV deve ter atores negros na mesma proporção que há na população. Deve ser assim também na política?
Kruize - Claro. Deve ser igual em todo o mundo. Se você tem 40% da população negra, então deve ter 40% em educação, política, livros, museus, em tudo. Isso fará do mundo um lugar melhor.
Folha - A senhora conhece a situação dos negros no Brasil?
Kruize - Só um pouco. Sei que no Brasil os negros estão tentando construir a auto-estima, entrar mais em contato com sua cultura, e eu os admiro e respeito por isso. Espero poder ser de alguma forma parte disso, levar o orgulho que há no lugar de onde eu venho, para que eles se sintam bem em ser negros. O negro é lindo.

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