São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Pecuária quer reduzir preços da carne

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

Dispostos a recuperar o espaço perdido para a carne de frango nos últimos anos, os pecuaristas pretendem reorganizar a cadeia de produção de carne bovina, que envolve também os frigoríficos, supermercados e açougues.
"É uma proposta radical. Nosso objetivo é reduzir os preços da carne bovina, melhorar a imagem do pecuarista e modernizar o agrobusiness da carne", diz Sylvio Lazzarini Neto, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Pecuaristas de Gado de Corte (Sindipec).
Para ele, o setor precisa passar por uma reengenharia. Nesta entrevista à Folha, Sylvio Lazzarini Neto revela os planos do Sindipec.

Folha - Quais são os objetivos desse programa?
Sylvio Lazzarini Neto - A pecuária está entrando em xeque. O setor está muito atrasado em relação à avicultura. Os consumidores brasileiros estão cada vez mais exigentes. Querem qualidade e preços baixos. E, nesses aspectos, o agrobusiness da carne bovina nada inovou. Continua com os mesmos vícios do passado.
Folha - A ineficiência está na fazenda ou no frigorífico?
Lazzarini Neto - Em todas as pontas. Veja o caso dos frigoríficos, que ainda transportam ossos de carcaças bovinas para os centros urbanos, encarecendo os custos da carne. O consumidor não come osso nem sebo. O problema é que a maioria dos frigoríficos hoje está longe do boi. Se as carcaças fossem transportadas desossadas, haveria grande redução no custo do frete.
Folha - A desossa ainda é feita no açougue.
Lazzarini Neto - Desossar carne faz parte da cultura do açougueiro. É um sistema de serviço medieval, com padrões de higiene impróprios. Os açougues precisam reduzir sua margem de lucro, diversificando a linha de produtos, como fizeram as padarias.
Folha - Também não falta eficiência à pecuária?
Lazzarini Neto - A pecuária avançou muito nos últimos anos. Mas para avançar mais, precisa ter resposta do varejo. Toda a cadeia, porém, deve enxugar seus custos. Afinal, quem paga o preço da ineficiência é o consumidor.
Folha - Como os pecuaristas podem contribuir para a redução dos preços da carne bovina?
Lazzarini Neto - Temos de reduzir o peso no abate. Hoje, o boi no Brasil é abatido com idade entre três e quatro anos, com peso vivo de 500 kg. Isto gera 270 a 280 kg de carcaça. Na Argentina, a pecuária trabalha com carcaças de 220 kg. Os argentinos abatem o boi um ano antes. Quando o boi passa de 450 kg, sua conversão alimentar cai e o custo sobe.
Folha - O objetivo então é produzir novilhos precoces?
Lazzarini Neto - Precisamos produzir carne mais barata, pensando na maioria da população brasileira. Veja o exemplo da avicultura. A carne de frango hoje é 60% mais barata do que há dez anos. Podemos produzir, a custo mais baixo, animais a pasto, com peso vivo de 450 kg aos dois anos. Vamos ganhar em produtividade e repassar ao consumidor.
Folha - Outro objetivo do Sindipec é a união dos pecuaristas. Há interesse político por trás dessa proposta, como a de ressuscitar a União Democrática Ruralista para fazer frente ao Movimento dos Sem-Terra?
Lazzarini Neto - De forma nenhuma. A UDR tinha um objetivo momentâneo quando foi criada, na época da Constituinte. Nós temos outros objetivos e nenhum deles tem a ver com a extinta UDR.

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