São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Razões da má performance dos paulistas

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, a performance (até agora, a exceção é o Santos) de razoável para baixo dos times de futebol paulistas no Campeonato Brasileiro de 95 leva a várias reflexões.
A primeira é que o futebol por aqui anda mesmo em fase de transição. Está na muda, como dizem os passarinheiros.
O exemplo mais flagrante é o do time do São Paulo da era Telê Santana, que chegou ao bicampeonato mundial e hoje anda em fase de reengenharia futebolística e administrativa (agora, lançando o seu Morumbi do futuro). Vendeu Juninho, vendeu Caio. Investirá?
O Palmeiras perdeu e recuperou o seu melhor técnico (Wanderley Luxemburgo), desmontou um time, contratou outro, mas não conseguiu formatar um padrão de excelência. Está abrindo boas perspectivas para 96, com a chegada da dupla Djalminha-Luisão.
O Corinthians esteve como a economia brasileira: expandiu seu PIB (Produto Interno da Bola) no primeiro semestre e mergulhou em uma brutal recessão no segundo. Está perdendo patrimônio: Souza, Zé Elias e outros tiveram sua cotações desvalorizadas na Bolsa da Bola. O técnico Eduardo Amorim, idem. Perdeu Viola e ainda não acertou no substituto.
A Portuguesa, que tinha um time ajustadinho, ajustadinho, não consegue manter os jogadores no clube. Perdeu o Paulinho, perdeu o Paulo César, perdeu o Caio. O Guarani, que tinha um pé-de-obra invejável, não se sabe a razão, não emplacou. Perdeu Amoroso (machucado), depois a dupla que foi para o Palmeiras. Agora, como sempre, deve caçar novos talentos.
O Bragantino anda mal das pernas e o União São João, simplesmente, foi um fracasso como coadjuvante.
Restou ao Santos, com um elenco jovem e disposto a agredir, coroado pela fase divina do Don Giovanni, o sedutor da bola, o papel de articulador nacional do fut paulista.
Mas, além do período de transição, outros fatores contribuíram para a má performance dos paulistas. O principal deles foi o trauma da violência das torcidas, maior aqui do que nos demais Estados.
Até agora, o futebol parece não ter se recuperado moral e psicologicamente do choque da violência, com a sua consequência natural: os estádios vazios. Sem a magnética, os jogadores ficam desestimulados e baixam a produtividade.
Os principais times paulistas também vêm disputando várias competições ao mesmo tempo, sem dar o necessário tempo de recuperação para os atletas (fora do Estado, o Grêmio, que disputou vários torneios este ano, também teve a sua performance no Brasileiro prejudicada).
Por fim, mas não em último lugar, o principal: quando o Brasileiro é disputado no segundo semestre, o desgaste dos times paulistas tende a ser um pouco maior, pois o torneio regional é o mais competitivo do país.
Meus amigos, meus inimigos que residem em outros Estados: não é bairrismo, não estou procurando uma desculpa para a má performance dos paulistas. É apenas um aviso aos paulistas: se não houver um planejamento mais adequado, o futebol por aqui poderá dançar, ô meu.

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