São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Cara nova

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Os primeiros testes da F-1 versão 96 deixaram claro duas coisas. O que todo mundo sabia, o alemão vai penar. O que nem todo mundo acreditava, Villeneuve.
Meu ceticismo é confesso em relação ao filho de Gilles. Continuo não achando que ele vai entrar babando no carro e sair ganhando provas no próximo ano.
Nos testes, porém, já mostrou que não vai fazer feio. Nem poderia, afinal está sentado em um Williams, o que não dá muita margem para desculpas -não é mesmo, leitora Ellen?
Mas um fato foi mais animador. A resposta que ele deu aos jornalistas, quando perguntado se havia procurado confraternizar com Schumacher e Alesi no Estoril.
"Vim testar. Não fazer amigos", disse, seco. Apesar de clichê, a pequena frase mostra que Jacques deixou os sorrisinhos cordiais da Indy na América.
E que, caso não seja contaminado antes, poderá contrastar com a figura do piloto de F-1, idiotizada pelo marketing nos últimos anos.
Uma foto de Villeneuve tirada há alguns anos é, no mínimo, reveladora.
De óculos redondo e rabo-de-cavalo, não parecia nem um pouco o tipo que um dia sentaria em um bólido.
Hoje em dia, ele continua com o estilo despojado. Marca da família, que acompanhava o pai piloto nas corridas nos anos 70 em campings, não em hotéis de luxo.
O rabo se foi, os óculos ficaram. Não adianta esperar que Villeneuve fuja tanto à regra.
Mas seria bom termos figuras interessantes na F-1. Um Irvine só, mesmo na Ferrari, não faz verão.
Schumacher é outro que poderá se redimir. Como as luzes não deverão estar mais sempre em sua direção a partir de agora, deverá se permitir um pouco mais. E descer à Terra de vez em quando.
Se nada disso acontecer, também, paciência.
Vivemos outra era, onde a manufatura de heróis é capaz de produzir absurdos como o obscuro Massimiliano Papis sendo cercado por fãs no Japão.
Não interessa se o cara é bom ou ruim, fale alguma coisa que preste ou só diga bobagens.
Basta que ele seja piloto. E, mesmo hipoteticamente, tenha uma vida de sucesso e glória. Aquela que o fulano com a caneta na mão sonha para si.
Mas a própria F-1 sabe que essa idolatria barata não segura audiência. Que são necessários heróis de verdade na pista. E por isso mesmo foi atrás de Villeneuve.

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