São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995 |
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Americana nega modo feminino de compor
IRINEU FRANCO PERPETUO
Assim pensa Susan McClary, a professora da Universidade de Los Angeles que, anteontem, proferiu a palestra "Perspectivas norte-americanas sobre a mulher e a música", no Sesc Ipiranga. A palestra fez parte do Festival Internacional de Mulheres Compositoras. McClary enfatiza a importância desse tipo de evento: "nas escolas, sempre nos repetiram que não havia mulheres compositoras. Se não nos reunirmos para trocar experiências e tocar nossa música, ela desaparece, por desinteresse dos historiadores de sexo masculino". Cita como exemplo Hildegard von Bingen, freira do século 12, cuja música (disponível em CD do selo Naxos) foi apenas recentemente descoberta. "Muitas compositoras do século 20 nem sequer se preocupam em ser femininas, mas, apenas, em demonstrarem ser tecnicamente tão boas quanto os homens", afirma a pesquisadora. McClary centra seu trabalho nas questões de corpo, prazer e desejo na música. Ela faz, por exemplo, a análise musical da construção do caráter dos personagens masculinos e femininos na ópera. "A música não é neutra. Com ela, o compositor exprime desejos e ansiedades, explica. Em seu artigo "Structures of Identity and Difference in Carmen" (estruturas de identidade e diferença em Carmen), McClary demonstra, por exemplo, como não apenas o libreto, mas a própria música da ópera "Carmen", de Bizet, induzem o público a desejar a morte da protagonista. Não se trata, entretanto, de posar de vítima e condenar os compositores do sexo masculino por terem maltratado os personagens femininos em suas óperas. "Cada compositor trabalhou de seu jeito", diz. Segundo ela, em "As Bodas de Fígaro", de Mozart, por exemplo, a música das personagens femininas é muito mais séria e digna que a dos homens. "Na ária 'Deve sono', a Condessa tem momentos de bravura que na música daquela época estavam reservados apenas aos heróis masculinos", afirma McClary. Mesmo em "Carmen, obra na qual a tensão musical se resolve na morte da protagonista, outras leituras são possíveis". "As feministas do século 19 gostavam desta personagem poderosa, que dizia sempre o que pensava", diz. Texto Anterior: Programa vem em três CDs Próximo Texto: Filme sobre Evita incomoda os argentinos Índice |
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