São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Mitos gregos ganham versão para teens

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

O diretor e dramaturgo Vladimir Capella, consagrado em montagens para crianças -"Maria Borralheira", "O Saci" (Monteiro Lobato), entre outras-, põe em cartaz o amor com o espetáculo "Píramo e Tisbe".
A peça se destina aos adolescentes, em uma espécie de provocação a seus sentimentos íntimos. Para isso, o diretor trouxe à cena os arquétipos greco-romanos sobre o tema amoroso.
E soube dar-lhes vida em corpos jovens, em atores de 19 a 21 anos que compõem o elenco. É o mito de Narciso já presente, se apresentando como espelho do público ao qual se dirige.
Com música ao vivo (Dyonísio Moreno) e cenário quase lisérgico, "Píramo e Tisbe" envolve os mitos de Pandora, Eco e Narciso, Píramo e Tisbe, Orfeu e Eurídice, no visual das histórias em quadrinhos, que se contrapõem às túnicas gregas de cores pálidas.
As vestes, com fendas nas pernas e decotes amplos, imprimem sensualidade, deixam entrever o corpo dos jovens atores.
Romero de Andrade Lima ("As Suplicantes") assina cenário, figurinos e adereços.
As narrativas clássicas estão vertidas em diálogos de sintaxe arcaizante, misturada ao discurso direto e oral.
A fala de Narciso, ao descobrir o próprio reflexo no lago, apaixonado por si mesmo, é exemplar: "Que olhos são esses, são pérolas ou lanças, provocam estranho arrepio, uma espécie de dor. Quem és, que magicamente me transforma?..."
Tudo o que é dito é simples, didático, como as enumerações iniciais do começo do mundo, concretas, ditas pelo coro sombrio, iluminado à luz de velas: "... do sublime mistério da noite profunda nasceu o amor.
Depois de tudo, então, foi ordem e beleza, surgiram os rios, as matas, as fontes, o céu e as estrelas, o sol, a lua e a chuva, o vento, as pedras".
O trabalho de mestria do diretor é visível em "Píramo e Tisbe".
Capella demonstra ser possível trabalhar com jovens atores, aproveitando seu esplendor, ou o que eles têm de melhor -a integração do grupo (vista no coro), o à vontade das cenas de contato amoroso físico, das coreografias circenses (Marco Vettore).
Os mitos de "Píramo e Tisbe" falam de perdas, infortúnios, impedimentos.
O alegre Píramo (Jiddú Pinheiro) encarna desespero quando se vê trancado pela mãe, que tenta impedir sua morte prematura, afastando o filho da amada Tisbe (Paula Sardá).
Ao se verem tão tragicamente separados -a parede é humana-, os atores dão lições de agilidade.
Ocupam a cena com expressões de ansiedade e espanto, provocados pela percepção -eles ainda são tão jovens-, da impossibilidade do amor.
Sibila ganhou cena mais longa, em estilo contundente, próprio para a grande atriz que é Selma Luchesi. Ela sabe pronunciar todas as palavras, tingi-las das emoções que quer, em dicção de alcance, controlada, madura, deixando a platéia em suspenso, vidrada na gaiola de prata da personagem.
Por tudo isso, assistir a "Píramo e Tisbe" é um momento privilegiado. Vá ver o "o fio de lágrima" que as parcas do destino humano tecem para as relações amorosas. Não há outro modo de ser, o amor é assim.

Peça: Píramo e Tisbe
Direção: Vladimir Capella
Cenário: Romero de Andrade Lima
Elenco: Selma Luchesi, Benito Carmona, Caco Ciocler, Débora Duboc, Jiddú Pinheiro, Rita Ribeiro, Sibyle Steponaitis, entre outros
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 284-9787, Cerqueira César, região central de São Paulo), em frente à estação Trianon do metrô; 466 lugares
Quando: De quarta a sexta, às 14h, só para escolas agendadas (tel. 284-4473, com Cleide Mendes). Apresentações para o público aos sábados e domingos, às 11h e 14h
Quanto: Grátis. Retirar ingressos na bilheteria do teatro com uma hora de antecedência

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