São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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'Barcelona' e 'Somália' convivem em SP

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
EDITOR DO PAINEL

Na outra face de São Paulo, nos 23 distritos "incluídos", moram 1.735.738 pessoas, pouco mais do que a população da cidade modelo de Barcelona, na Espanha.
A contradição entre cidades distintas que coabitam o mesmo espaço é uma das conclusões do Mapa da Exclusão Social na Cidade de São Paulo, feito pela PUC-SP.
No mapa (leia a primeira página deste caderno), a cidade organiza seus indicadores de qualidade de vida em "dégradé": da extrema periferia, repleta de números negativos, até o "paraíso" da zona sudoeste. Entre os extremos, os demais distritos vão somando notas positivas à medida que se aproximam do bolsão de riqueza.
Os piores indicadores concentram-se na distante periferia das zonas leste e sul. Nessas duas regiões estão oito dos nove distritos que tiveram nota entre -100 e -75 no Mapa da Exclusão. O nono distrito é Brasilândia (norte).
As 1.041.680 pessoas que moram nessa faixa do mapa -mais do que a população de Manaus (AM)- têm em comum a convivência diária com os piores índices da cidade em conforto domiciliar, distribuição de renda, alfabetização e longevidade, por exemplo.
São distritos como Parelheiros (sul), onde 10.298 domicílios (82% do total) têm acesso precário à rede de esgoto, ou Guaianazes (leste), onde há só 75 chefes de família (0,39% do total) que ganham mais de R$ 2.000 por mês.
É o caso também de Marsilac (sul). Na fronteira com Itanhaém, tem 5.992 habitantes e grandes áreas verdes, mas coleciona o pior índice de alfabetização: 51% dos chefes de família são analfabetos ou sabem ler precariamente. Só nove têm curso superior.
Ainda no lado "Somália" está o Jardim Ângela (sul). É o distrito onde mais jovens de 15 a 24 anos são assassinados. Em 94, foram 83. A taxa é de 222 por 100 mil -mais que o dobro da média da cidade nesta faixa de idade, que é de 102,58/100 mil.
Dentre os piores, Lajeado é o pior. Vizinho do município de Ferraz de Vasconcelos, na extrema zona leste, é campeão em desconforto domiciliar e aparece ainda entre os dez piores em escolaridade de chefes de família, longevidade, analfabetismo e renda.
A faixa seguinte no mapa é mais populosa do que Paris: 2.635.613 paulistanos que moram mais próximos do centro, mas ainda na periferia econômica e social.
São distritos como Sapopemba, que tem mais habitantes do que o Estado de Roraima (257.617) e é campeão em número de chefes de família analfabetos ou com alfabetização precária: 19.804.
A terceira faixa do lado "Somália" é onde mora quase a metade dos paulistanos: 4.233.154. Seus distritos, entre os quais os do centro histórico, como a Sé, se equilibram entre índices negativos e positivos, mas, no final das contas, acabam com média inferior a zero.
Liderando o lado "Barcelona" do Mapa da Exclusão está a zona oeste paulistana, onde 10 dos 14 distritos oferecem os melhores indicadores de condições de vida a seus moradores. Lá estão dois campeões da cidade: Alto de Pinheiros (2º) e Jardim Paulista (3º).
Junto com Moema (1º do ranking) e Santo Amaro (4º), seus vizinhos da zona sul, formam o cinturão de ouro de São Paulo onde vivem 306.385 pessoas -pouco mais do que a população do Estado do Amapá. Estão entre os dez melhores distritos em escolaridade e alfabetização dos chefes de família, conforto domiciliar e renda, entre outros indicadores.
No distrito de Moema estão, por exemplo, os bairros Parque Ibirapuera, Vila Nova Conceição e Indianópolis. Em Santo Amaro, situam-se o Alto da Boa Vista, a Chácara Flora e a Granja Julieta.
Por serem mais homogêneos, destacam-se dos 11 distritos da faixa vizinha no mapa, onde moram 1.010.224 paulistanos. A região ainda conserva bons indicadores, mas perde pontos por ter bolsões de exclusão.
Caso típico é o Morumbi. Campeão em chefes de família que ganham mais de R$ 2.000 mil/mês (38,61% do total), cai para 14º no ranking dos melhores distritos devido aos altos índices de violência.
Na terceira faixa do lado "Barcelona" moram o equivalente à população do Acre: 419.129 pessoas. São oito distritos que vivem no meio-termo entre a tradição e a decadência. Exemplo desse hibridismo é o distrito da Consolação. Nele, convivem, lado a lado, a Vila Buarque -começo da zona boêmia, a chamada Boca do Lixo- e Higienópolis, bairro de FHC.

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