São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Lições do Sivam

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

O presidente norte-americano Bill Clinton empenhou-se pessoalmente para que a disputa em torno do bilionário projeto Sivam terminasse com a vitória da empresa americana Raytheon.
O Departamento de Estado e, sobretudo, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos não fizeram por menos.
O secretário de Comércio, Ron Brown, peregrinou pela América Latina, com demorada escala no Brasil, carregando na comitiva, entre outros, o presidente da Raytheon, finalmente vencedora do embate comercial.
Muitos políticos brasileiros sabem que, já há algum tempo, as entrevistas com os chamados altos dignitários do governo americano começaram a incorporar no rol dos assuntos prioritários o tal de projeto Sivam, além da rotineira abertura comercial e da indefectível Lei de Patentes.
Enquanto as velhinhas de Taubaté dormem e sonham com o livre mercado, o Estado Nacional americano faz o que aconselha aos outros que não façam: empurra, com o peso de sua força, a mão invisível na direção desejada.
No caso dos setores que lideram a incorporação do progresso técnico, como aeroespacial, telecomunicações e informática, a luta pela conquista de mercados exige dos governos: gastos elevados para sustentar os programas de pesquisa e desenvolvimento; políticas de compras governamentais destinadas a manter níveis mínimos de demanda doméstica; políticas comerciais ativas para aumentar a participação das "empresas nacionais nos mercados estrangeiros em expansão; programas oficiais de financiamento às empresas que conseguem obter contratos no exterior.
Com algumas variações, o que está descrito corresponde ao padrão mais moderno de intervenção do Estado na economia na era da globalização e da integração dos mercados.
As políticas não estão mais, como nos "famigerados" anos 50 e 60, dirigidas à expansão do mercado interno ou à obtenção de níveis elevados de emprego, enquanto condições que favorecem a estratégia de crescimento das empresas.
Inversamente, as políticas de governo procuram estimular a estratégia competitiva da grande empresa nos mercados globalizados, como condição para a manutenção sob controle "nacional" dos empregos de maior qualificação, do saber técnico e das vantagens dinâmicas conferidas pelo domínio da tecnologia.
O problema, como se vê, não é redutível ao slogan dos pascácios: "mais mercado, menos Estado". A questão é outra. Trata-se, na verdade, de "mais Estado, mais mercado e menos proteção aos fracos".

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