São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Boa nova; Ombudsman do Brasil; Correção; De corvos e urubus; Invenção perigosa; Semelhanças; Prostituição de adolescentes; Levante sãopaulino; Matemática elementar

DE CORVOS E URUBUS

Boa nova
"Congratulo-me com o editorial 'Ouvidos ao delito', a respeito da Ouvidoria na polícia estadual, recentemente criada. Penso, igualmente, que será um excelente instrumento para um melhor controle interno da atividade policial. O controle da atividade policial ali preconizado poderá ser ainda mais eficaz se, como consta do decreto que criou a Ouvidoria e da parte final do editorial, forem transmitidas 'com celeridade, às instâncias competentes, as denúncias e sugestões oferecidas pela população'."
José Emmanuel Burle Filho, procurador-geral de Justiça (São Paulo, SP)

Ombudsman do Brasil
"O júri criado pelo governo federal premiou personalidades e ONGs com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos e escolheu d. Paulo Evaristo Arns para o prêmio principal de personalidade. É um reconhecimento ao maior ombudsman do Brasil. Com a premiação de d. Paulo estão sendo premiados os familiares de desaparecidos políticos, de pobres da periferia e a democracia."
Benedito Domingos Mariano, ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Correção
"Quero registrar os meus cumprimentos à Folha pela correção com que vem tratando o caso do bispo Von Helder. As reportagens estão respeitando os aspectos jurídicos da questão, não emitindo qualquer juízo de valor sobre constituir crime ou não a conduta enfocada. Com isso a Folha foge da prática comum da imprensa brasileira de acusar e condenar, colocando à execração pública a figura de um acusado antes mesmo da instauração do processo. Cumpre notar que tal postura do jornal não o impediu de manifestar sua reprovação quanto ao comportamento do bispo. Aliás, tal comportamento mereceu do seu próprio advogado explícita censura, ao assumir a causa, sem que ela, no entanto, levasse ao reconhecimento da prática de um crime ou à abstenção do exercício do sagrado direito de defesa. Por derradeiro, deve ficar consignada a perfeita análise feita pelo jornalista Marcelo Leite, ombudsman do jornal, a respeito da repercussão e das interpretações dadas ao caso."
Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, ex-secretário estadual de Segurança (São Paulo, SP)

"Senhor presidente: o corvo é uma ave limpa, simpática, algo gaiata, que pratica pequenos furtos -nunca os grandes- e que tem alguns parentes na Europa que conseguem articular palavras (remember 'The Raven': 'Never more'). Não teria o senhor querido referir-se a urubus? Acredito que foi essa sua intenção, mesmo porque sua associação com o PFL e, consequentemente, com ACM, a mutreta (qual é o comerciante ou industrial que é salvo a juros de 2%?) para ajeitar o Banco Nacional (o sr. tem afinidade com a família Magalhães, não tem?), o projeto Sivam que o sr. continua insistindo em defender sem reformulação, tudo isso é motivo para provocar revoada de todos os urubus existentes no Planalto Central, tal o cheiro de podridão que exala daqueles e de outros negócios conduzidos em Brasília com o dedo de políticos. Que tal pedir desculpas à nação e começar tudo de novo, desta vez da forma prometida em seu discurso de campanha?"
Jayro Eduardo Xavier (São Paulo, SP)

"Os dois Fernandos são 'brasilófobos'. O Collor, de tanto ler gibi americano, chamava seus opositores de 'abutres'. O Henrique Cardoso, com a 'carniça' da corrupção ao seu lado, resolveu qualificar opositores do Sivam como 'corvos', citando Edgar Allan Poe. Um recado para os dois: a ave brasileira, que limpa a putrefação e outro dia comeu os olhos de um cidadão, é o urubu. A mesma que encantou o célebre cientista Albert Einstein, quando este visitou o Brasil, e que, desde maio deste ano, ronda Brasília atraída pelo malcheiroso projeto Sivam e seu US$ 1,4 bilhão. FHC, leia mais Graciliano Ramos, Guimarães Rosa."
Galdino Mesquita (Jundiaí, SP)

Invenção perigosa
"Sarney, sua definição 'maravilha descoberta por Graham Bell para a gente não falar' é lamentável. Político há décadas, ex-presidente da República e atual presidente do Senado, temer pela transparência de conversas telefônicas é no mínimo deplorável."
Roberto de Mello (Assis, SP)

"Li em sua coluna semanal que o ex-presidente José Sarney concluiu que a maravilhosa invenção de Graham Bell foi feita para a gente não falar. Interessante esse seu exorcismo, ex-presidente. Pois o seu telefone, na memória da nação, acaba de ser 'grampeado'!"
Tarso A.A. Portes (Cascavel, PR)

Semelhanças
"'O Brasil ainda vai ser um imenso Portugal'. Já é, Chico, já é. E, o que é mau, o Brasil do professor Cardoso é um imenso Portugal, mas o Portugal do professor Salazar. 'O escudo vale mais que a libra esterlina', proclamava o solitário de Santa Comba Dão. 'O real vale mais que o dólar', orgulha-se o colega brasileiro. Tudo bem, mestres; só que o Portugal de Salazar, com todo o glorioso valor da moeda, vivia 'à rasca': imobilismo total, desemprego, fome. E o Brasil do professor Cardoso? 'Quebraban', recessão, desemprego, miséria. Há, porém, uma diferença: para manter a sua longeva ditadura, o déspota português tinha a Pide, sanguinária polícia política. Já o sorridente sociólogo patrício exerce a sua amável ditadura através do 'pede': os congressistas pedem e ele concede. É a ditadura do fisiologismo."
Hugo Maia (São Paulo, SP)

Prostituição de adolescentes
"Ainda estamos distantes de atacar as causas da prostituição de adolescentes pela raiz. Nem discutimos todas elas. Fala-se apenas de causas econômicas, da sedução e agressão física no lar. Sem dúvida, essas são causas verdadeiras. Devem ser enfrentadas com toda criatividade e fôlego. Mas a questão da prostituição é mais complicada do que muitos sábios dizem. E deve ser melhor estudada para saber o que se passa com alguém que se dedica integralmente ao relacionamento sexual e faz disso a sua profissão. É necessário perceber que não é uma só causa que fez com que essas adolescentes entrassem na prostituição. São várias as causas. No conjunto, as relações afetivas têm muito peso. Na sociedade preconceituosa, onde as relações são calculistas e de recompensa, as chances estão sempre no limite. É decisivo observar as perspectivas que as próprias prostitutas colocam. Falam de seu sonho de casar. Mas também falam em alguém que as compreenda. Falam em ter sua casa, seus móveis, seu trabalho, ficar com seus filhos, estudar. Querem ser gente honrada, que têm o direito de viver. É o retorno à conformidade social. Seria a reparação do momento social rompido no passado. Essa é, ao mesmo tempo, a luta pela honra e valorização do corpo humano."
Teobaldo Witter, presidente do Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade (Cuiabá, MT)

Levante sãopaulino
"Com um patrocinador como a TAM, um técnico como Telê Santana e uma diretoria como a atual, o São Paulo não precisa mais de adversários. Sugiro que os verdadeiros sãopaulinos -e não os de ocasião, que só querem se utilizar do clube para ganhar dinheiro- boicotem a campanha pela reconstrução do Morumbi enquanto o São Paulo não apresentar um elenco e uma comissão técnica com vergonha na cara e dignos de suas tradições."
Daniel Moreno Sant'Anna (São Paulo, SP)

Matemática elementar
"Qualquer aluno mediano de curso de madureza sabe que para gerar despesa é necessário gerar antes a respectiva receita. Que tal se a cúpula do Judiciário, que sem fazer previsão orçamentária para o próximo ano está com um projeto na Câmara de um novo plano (mais um?) de cargos que aumenta os salários em média em 59%, consultasse esse princípio básico da economia para não onerar mais ainda o bolso do contribuinte? Parabéns ao ministro José Serra que está obstruindo essa aprovação (aberração?) na Câmara."
Alexandre Marcon Fernandes (Florianópolis, SC)

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