São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Graziano terá de depor em supercomissão

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A supercomissão do Senado que vai investigar todo o caso Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) deverá convocar o presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano, para depor.
O relator dos trabalhos, senador Ramez Tebet (PMDB-MS), defende que Graziano seja convocado em função do seu suposto envolvimento no escândalo do "grampo" do telefone do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do cerimonial da Presidência da República.
Tebet elaborou uma lista de pessoas que devem ser ouvidas e pretende submetê-la hoje ao presidente da supercomissão, senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). ACM defende a convocação e a quebra de sigilo bancário de "todos os envolvidos".
O relator concorda, mas acha que tudo deve ser feito "sem sensacionalismo". Na opinião de Tebet, o projeto é "importantíssimo", e toda a "nebulosidade" que envolve o contrato entre o governo brasileiro e a empresa norte-americana Raytheon, no valor de R$ 1,4 bilhão, para compra dos equipamentos do Sivam, deve ser apurada.
"Um contrato dessa envergadura certamente desperta muitos interesses. Por trás dessas denúncias de irregularidades, podem estar também interesses contrariados", disse Tebet.
Ele pretende analisar "a fundo" as questões técnicas do projeto e do contrato com a Raytheon para concluir se o Senado deve dar ou não autorização para que o governo contrate empréstimo externo -com o banco norte-americano Eximbank- para a compra dos radares e outros equipamentos.
"É difícil analisar a questão do empréstimo em si, isoladamente. Todos os episódios que cercam o empréstimo serão objeto de análise, inclusive a escuta telefônica", disse Tebet.
A Polícia Federal "grampeou" o telefone do ex-chefe do cerimonial do Planalto e gravou uma conversa entre ele e o representante da Raytheon, José Afonso Assumpção. O embaixador é suspeito de exercer tráfico de influência, ou seja, usar seu cargo para favorecer a Raytheon.
Além de Graziano, devem depor no Senado o ex-ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, o embaixador Júlio César Santos, o senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), relator do pedido de empréstimo feito pelo governo, o atual ministro da Aeronáutica, Lélio Lôbo, e outros envolvidos.
Miranda, ex-relator do projeto Sivam no Senado, também será investigado para saber por que mudou de posição em relação ao sistema. Em dezembro do ano passado, defendeu o contrato com a Raytheon e aprovou autorização para o empréstimo.
Agora, o senador apresentou novo parecer criticando a tecnologia oferecida pela empresa norte-americana e votando contra a autorização para o empréstimo.
A supercomissão será formada pela fusão de três comissões técnicas do Senado: CAE (Assuntos Econômicos), CRE (Relações Exteriores e Defesa Nacional) e CFC (Fiscalização e Controle).

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