São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Alemanha está limpa, já o Brasil, um lixo

MARCELO RUBENS PAIVA

O futuro é assim. Quem tem um emprego, trabalhará a metade, e ganhará a metade, para que possa existir empregos para todos, para frear a onda industrial que devasta a Terra. E tudo bem, seremos menos ricos, teremos mais tempo, praças, trilhas na floresta, rios para nadar. Seremos mais felizes, não?
Mas acaba de ser inaugurada a Febral'95 (Feira Brasil-Alemanha de Tecnologia). A Alemanha quer aumentar os investimentos no Brasil. Por que o Brasil? "A Febral está sendo realizada aqui porque não temos dúvida de que o país retornou definitivamente ao cenário da economia mundial", disse o ministro de Economia da Alemanha. Papo furado.
Primeiro, como um país que enfrenta sérios problemas de desemprego, especialmente depois da reunificação com a parte podre ex-comunista, pega seu precioso dinheirinho para investir do outro lado do oceano? Segundo, desde os tempos da Prússia, a Alemanha tem mais afinidades com as novas democracias do Leste Europeu (Polônia, Eslováquia, Hungria, Rússia etc.) do que com o Brasil patropi. O que vieram fazer aqui?
Bingo. Lá, o prioritário é harmonia homem meio ambiente. Aqui, mal se toca no assunto. Em Berlim, uma bicicleta tem mais poderes que um carro. Aqui, inaugurou-se mais um túnel sem passagem para pedestres. Na Alemanha, as montadoras estão obrigadas, por lei, a recolherem e reciclarem os carros antigos. Isto é, cada carro fabricado pela Mercedes ou Volks é de responsabilidade da fábrica por toda a vida. Não se pode jogar no lixo. Deve ser reciclado.
Ecologia na Alemanha é coisa séria. É o país das leis mais rigorosas; controle de poluição, lixo industrial, preservação das florestas, rios etc. Aqui, a zona completa; todos os domingos, dia de folga dos funcionários públicos que deveriam controlar a poluição, o córrego de Diadema amanhece vermelho; as fábricas aproveitam para jogar dejetos.
A chegada do dinheiro alemão é festejada nos gabinetes burocratas, nos sindicatos e pelo lobby mauricinho dos neo-liberais. Enquanto a fumaça e o lixo destas empresas envenenarão nosso sangue, a Alemanha continuará limpinha da Silva. Seremos sempre um país atrasado, com dificuldades de romper o ciclo de dominação e dificuldades de enxergar o óbvio. No passado, o celeiro do mundo. Agora, o lixo.

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