São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Readgrave quer independência no cinema

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Para a atriz inglesa Vanessa Redgrave, uma da melhores maneiras para se aprender português é acompanhar, em tradução, os versos do poeta irlandês Willian Butler Yeats (1865-1939).
Redgrave, 58, falou à Folha na última sexta-feira, um dia antes da última apresentação da peça "Antony e Cleopatra" em São Paulo, sobre seu mais recente trabalho no cinema: "Um Encontro Para Sempre", de John Irvin.
No filme -que deve estrear no país nas próximas semanas- a atriz interpreta uma mulher no fim da meia idade que passa um verão em um balneário italiano, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, e redescobre o amor e as crueldades da juventude.
Abaixo, trechos da entrevista, onde ela fala sobre sua personagem, o teatro e, claro, Yeats.

Folha - A sra. sempre traz um livro de Yeats enquanto aguarda seus compromissos no Brasil. Alguma razão especial?
Vanessa Redgrave - Fui presenteada por Paulo Vizioli, que fez a tradução dos poemas para o português. Eu gosto muito de Yeats. Em segundo lugar leio os originais dos poemas em uma página e em português na página oposta (folheando o livro). É uma maneira maravilhosa para se conhecer outra língua.
Folha -Yeats, assim como seu personagem em "Um Encontro Para Sempre" pertencem a um mundo que já não existe mais, transformado pela Segunda Guerra.
Readgrave - Yeats morreu em 1939. Mas seus poemas estão muito, muito vivos. Gosto de pensar que meu personagem, apesar de não estar no script, leu muito de Virginia Wolf e Vita Sackville e também Yeats. Gosto muito de Mrs. Bentley. Ela é uma mulher muito pouco comum, porque não se enquadra na tradição nem ao que se espera de alguém de sua idade. Uma mulher extremamente independente.
Folha - Qual a situação do cinema britânico, no momento em que o mercado Europeu está sendo tomado por Hollywood?
Redgrave - Você pode pensar a situação nesses termos, mas há também um outro lado. Parece que os ingleses não estão muito interessados em investir em suas próprias produções. Meu filme foi feito com o dinheiro de uma companhia americana. E é um filme ótimo. Não sei se isso é certo ou errado. Na verdade, não me preocupo com as questões de mercado, mas com a área criativa. Muitas vezes é impossível conseguir qualquer investimento britânico. Um problema tipicamente inglês.
Folha - O teatro, ao contrário, passa por um período de grandes produções. Esse ano, em particular, houve até a volta do dramaturgo Harold Pinter.
Readgrave - Não! Apesar de tudo de maneira alguma é mais simples ou fácil produzir uma peça na Inglaterra. Assim como o cinema, é tudo extremamente difícil. Essa é a minha especialidade, o teatro. Acho a peça de Pinter, por exemplo, realmente muito boa, mas há muitas em cartaz que não são. Há belas produções, como montagens dos trabalhos do americano Arthur Miller. Acredito que ainda seja muito, muito difícil para que os novos dramaturgos possam conseguir mostrar seus trabalhos na Inglaterra. Mesmo para os reconhecidos é difícil.

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