São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 1995
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Graziano é quarta vítima do "grampo"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O caso da escuta telefônica fez ontem sua quarta vítima. O presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano, pediu demissão ontem. O presidente Fernando Henrique Cardoso aceitou o pedido.
Graziano é apontado como o responsável pela quebra do sigilo telefônico do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, então chefe de cerimonial do Palácio do Planalto.
A demissão acontece 18 dias depois de o próprio Graziano ter entregue a FHC as gravações realizadas pela Polícia Federal na residência do embaixador em Brasília.
Além de Santos, já foram afastados de seus cargos, em consequência do "grampo", o ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, e o diretor do CDO (Centro de Dados Operacionais) da Polícia Federal, delegado Mário José de Oliveira Santos.
Graziano foi até o Palácio do Planalto por volta das 17h para entregar pessoalmente a carta ao presidente, que a aceitou de imediato.
Na carta, Graziano permanece negando que tenha sido o mandante da escuta telefônica. "Reafirmo que minha participação nesse episódio resumiu-se a fazer chegar às mão de vossa excelência grave denúncia de tráfico de influência", afirma.
"Cumpri com meu dever e procurei defender o interesse público", completa Graziano na carta. Segundo ele, a decisão de pedir demissão foi tomada para "não criar constrangimentos".
Para o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, "o fato de o presidente da República ter perdido três assessores mostra que o governo é rigoroso".
Ao mesmo tempo, o porta-voz fez questão de ressaltar que a demissão foi uma decisão do presidente do Incra. "A decisão foi um ato de Graziano, não foi uma decisão de governo", disse.
Graziano se mostrou abatido e emocionado quando retornou à sede do Incra, por volta das 18h30. "Saí para dar uma volta. Será que não posso fazer isso?", disse, ainda no interior do elevador privativo das autoridades do Incra.
Aos jornalistas que insistiam numa declaração dele, Graziano foi lacônico: "Peguem notícias no Palácio do Planalto. Vão lá que logo, logo vocês vão ter notícias".
Graziano completaria hoje dois meses à frente do Incra. Na carta a FHC, ele afirma que a reforma agrária é "fundamental" para a modernidade do Brasil. "Tenho certeza que ela continuará a ser implementada."
"Mais importante que as pessoas são os projetos de mudança e a concretização das reformas que a nação exige", conclui. Antes de ser nomeado presidente do Incra, Graziano ocupou o cargo de chefe de gabinete de FHC.
Graziano deve dar hoje uma entrevista coletiva à imprensa. "Ele continua afirmando que não é o responsável (pelo grampo) e que se demitiu para o bem do governo. Ele acha que seu nome foi envolvido no escândalo para denegrir o governo FHC", disse o assessor de imprensa Augusto Fonseca.
Graziano procurou manter a rotina ontem no Incra. Sua assessoria de imprensa chegou a confirmar a agenda que ele teria hoje -audiência com o ministro do Exército, Zenildo de Lucena (10h), seminário na Câmara (15h) e viagem para Maceió (19h). De lá, ele seguiria para Fortaleza.

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