São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 1995
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O dia da reação

OLAVO MONTEIRO DE CARVALHO
A caminhada Reage Rio representa um momento histórico de mobilização popular na cidade do Rio de Janeiro. Sua dimensão e sua importância são comparáveis às das passeata dos 100 mil nos anos 60 e à manifestação "Diretas Já" de 1984, que levou mais de 1 milhão de pessoas à Candelária.
Se as duas primeiras marcavam um protesto especificamente político, o movimento atual assume um sentido mais amplo de luta pela reconquista da cidadania. Esse sentido está expresso em seu caráter pluralista e apartidário, que reunirá associações de moradores, pastorais da Igreja Católica, Ligas de Escola de Samba, ONGs e diversas entidades.
É importante, porém, que a mobilização que se articula em todos os níveis se estenda também aos meios empresariais. É dever de todos tomar parte num movimento que tem a oportunidade de evitar que se perca todo o esforço recente em prol da recuperação da auto-estima carioca.
De fato, ao longo dos últimos anos, uma inédita mobilização dos governos federal e estadual, da bancada parlamentar, do empresariado e demais entidades representativas da sociedade tornou possível a revitalização econômica do Rio de Janeiro. As vantagens comparativas do Estado voltaram a se sobressair nacional e internacionalmente.
O setor privado esteve atento às potencialidades de energia (petróleo e gás natural), infra-estrutura e mão-de-obra. Como resultado, o Rio de Janeiro foi o Estado que mais cresceu no país nos últimos quatro anos e conta com investimentos previstos de mais de US$ 22 bilhões até 1999, que gerarão mais de 400 mil novos empregos diretos.
E, nunca é demais lembrar, a geração de empregos é uma das medidas essenciais no combate à inflação, à miséria e, naturalmente, à violência.
Especialmente neste ano de 1995 a revitalização econômica deixou de ser um sonho para se tornar realidade. Todo esse esforço, no entanto, está seriamente ameaçado. A violência no Rio não deixou de existir nos meses anteriores.
Mas nunca a cidadania foi tão ultrajada quanto no dia em que três sequestros exibiram com toda a intensidade as vulnerabilidades a que estão expostos os que vivem nessa cidade. Eu não me encontrava no Brasil naquele momento. Posso afirmar, contudo, que as notícias chegaram rapidamente aos jornais estrangeiros. E que sua repercussão foi a mais negativa que se possa imaginar.
Tudo isso é terrível e inaceitável para quem ama o Rio. Como evitar que, ao lado das imensas oportunidades oferecidas pela cidade, o investidor estrangeiro contraponha a insegurança a que estará exposto? Como pedir que, no rastro da Volkswagen, outras gigantes decidam construir fábricas no Estado?
Não é fácil explicar que os aspectos positivos superam largamente as dificuldades. A segurança é um princípio básico da cidadania. É um direito adquirido. Como aceitar que uma cidade negue sistematicamente esse direito a seus habitantes?
O movimento Reage Rio chega num momento em que essas indagações se impõem a todos os que lutam por construir uma imagem internacional à altura do que se espera para o Estado e para o país. Ele chega, portanto, no momento mais oportuno.
O "basta" que o Reage Rio gritará para todo o país com toda a certeza ecoará internacionalmente. Não estaremos apenas diante de um Reage Rio, mas de um imenso "Reage Brasil".
É chegado o momento de todos manifestarem publicamente seu apoio ao Reage Rio. É importante, em especial, que todos os empresários que acreditam no Rio contribuam com sua participação. Como os movimentos anteriores, ele será um marco na história desse Estado e do país.
Um dia, muitos do que tomaram parte da passeata dos 100 mil tiveram de volta a liberdade que os levou às ruas em 1968. Também os que tomaram parte do comício pelas Diretas puderam, mais tarde, depositar nas urnas seus votos para presidente da República.
Estou certo de que, bem antes do que se espera, teremos de volta o Rio de Janeiro com o qual sonhamos. Com segurança, saúde e educação ao alcance de todos. A reação da cidadania começa agora. Mais tarde nos lembraremos deste 28 de novembro como o verdadeiro "Dia da Reação".

OLAVO MONTEIRO DE CARVALHO, 53, empresário, é diretor-presidente do Grupo Monteiro Aranha.

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