São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
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Sem-terra fazem protesto contra prisão

ADELSON BARBOSA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JOÃO PESSOA

Cerca de 500 trabalhadores sem terra participaram ontem, em João Pessoa, de um ato público de protesto contra a prisão do coordenador da CPT (Comissão Pastoral da Terra) da Arquidiocese da Paraíba, frei Anastácio Ribeiro, 52.
O protesto ocorreu em frente ao 5º Batalhão da PM (Polícia Militar), onde o frade está preso desde anteontem à noite. Não houve confrontos. Ele foi preso no Mosteiro de São Bento, em João Pessoa, pela PF (Polícia Federal).
A PF acatou mandado de prisão expedido contra Ribeiro pelo juiz da Comarca de Alhandra (35 km ao sul de João Pessoa), Aluízio Bezerra Filho.
O frade é acusado de formação de quadrilha, desobediência, resistência e maus-tratos contra crianças. Ele participou de duas invasões de terra na semana passada nos municípios de Conde e Pitimbu (litoral sul do Estado).
Uma das ocupações ocorreu nas terras das fazendas Jacumã e Tabatinga, pertencentes à empresa agropecuária Lundgren Pastoril Agrícola. Advogados da Arquidiocese da Paraíba passaram o dia preparando um pedido de relaxamento da prisão, que seria encaminhado ao TJ (Tribunal de Justiça) no final da tarde.
As pastorais da arquidiocese e entidades de defesa de direitos humanos de João Pessoa distribuíram uma carta aberta à população, repudiando a decisão do juiz de mandar prender Ribeiro.
Em entrevista à Agência Folha, Ribeiro considerou a ordem judicial para sua prisão "arbitrária". Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Agência Folha - A prisão do sr. enfraquece o movimento dos sem-terra?
Anastácio Ribeiro - Não é com despejos nem com minha prisão que vão barrar a caminhada dos trabalhadores rurais sem terra na Paraíba. Pelo contrário, a luta se torna mais forte a cada dia.
Agência Folha - O sr. pretende continuar liderando os sem-terra?
Ribeiro - Não é porque fui preso que vou parar a caminhada.
Agência Folha - Como o sr. recebeu a ordem de prisão?
Ribeiro - Eu estava no Mosteiro de São Paulo, onde fica a sede da CPT, trabalhando. O juiz está confundido as coisas. Eu sou um religioso, tenho trabalho e moradia fixa e não preciso de terra, nem tenho terra. Portanto, a prisão foi arbitrária e ilegal.
Agência Folha - O sr. é acusado de desobediência, formação de quadrilha, resistência e maus tratos.
Ribeiro - Não sei explicar por que estou preso. Não sei se foi por causa dos acampamentos. O que sei é que não formei bando ou quadrilha, como diz o juiz. Nunca maltratei ninguém. Sou um defensor dos direitos humanos.

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