São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995 |
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Cartório: você ainda vai se estrepar em um
BARBARA GANCIA
Na última segunda, tive o desprazer de passar a tarde indo e vindo do 30º Tabelião de Notas de São Paulo. Saí de lá exausta e pávida. Em nome da diligência, de um ano para cá resolvi encurtar minha assinatura. Acontece que minha nova marca do zorro não foi reconhecida em um documento e eu tive que me apresentar no cartório onde tenho firma há mais de 15 anos, a fim de regularizar a nova assinatura. Chegando lá, uma dona Rose, muito da aborrecida, exigiu CIC e RG. Saquei da carteira as cópias autenticadas. "Só serve original". Tentei argumentar: "Mas, minha senhora, esses xerox foram autenticados aqui, por vocês. Tenho firma neste cartório há anos, a senhora pode conferir." Nada. Lá fui eu para casa buscar os originais. Dona Rose, um pouco mais bem-humorada depois de almoçar e digerir os desaforos que eu havia lhe desferido ao sair, me mandou pagar a nota no guichê. Como não costumo andar com dinheiro, fui forçada a cometer o descalabro de perpetrar um cheque no valor de sete reais e qualquer coisa. Depois de uma amarga espera em pé, um funcionário me chamou para assinar documentos e -surpresa- para pagar uma nova nota, no risível valor de setenta centavos. "Quantas outras notas vocês vão me apresentar?", indaguei, choramingando, enquanto fazia o segundo cheque. Só por curiosidade, cronometrei a operação cartório: foram 3h25 de dor. A Constituição de 88 tentou remediar essa vergonha. Tentou, mas nada se fez. Pois eu pergunto: "Usque tandem catilina?" Até quando teremos de engolir essas ineficientes capitanias hereditárias? Estamos ou não há um sopro do fim do milênio? Texto Anterior: Viúva faz funeral de marido sequestrado Próximo Texto: Carteiros ficam carecas para protestar Índice |
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