São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
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Assunto sufoca 'As Montanhas da Lua'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Certos filmes sustentam-se de seus assuntos. Alguns outros deixam-se sufocar por ele.
"As Montanhas da Lua" (Globo, 0h30) tem como apoio, em princípio, a aventura dos exploradores Richard Burton e John Hanning Speke, que buscaram, no século 19, na África, a nascente do rio Nilo (que ficaria conhecida como Lago Victoria).
Mas a dimensão de sua busca acaba se transformando, talvez, em obstáculo ao andamento do filme. Rafelson é o poeta do pequeno "Cada um Vive como Quer", de 1970. Também foi capaz de manejar muito bem o erotismo e a tragédia de "O Destino Bate à Sua Porta" (1982).
Mas Burton e Speke parecem lhe inspirar um respeito excessivo, talvez postiço. Daí sua aventura parecer um tanto descabida: o que procura um homem quando procura a nascente de um rio?
Essa era a questão proposta pelo tema. Essa a questão que fica mais ou menos sem resposta.
Ou antes, fica soterrada sob uma montanha de pores-do-sol. E o pôr-do-sol é a coisa mais perigosa que o cinema comporta: basta um, mal colocado, para um filme firme virar uma coisa melosa.
É um perigo que não se corre em "O Gavião e a Flecha" (Record, 13h45). É o tipo de filme que se começa a ver sem pretensão, por puro divertimento. Depois, as coisas são tão interessantes, que os olhos não se despregam da tela.
No fim, percebemos que, pela secura, pelo uso eficiente dos meios, estamos face a uma pequena obra-prima.
O filme é quase um Robin Hood ambientado na Itália medieval. Mas isso tem pouca importância. É plano a plano, sequência a sequência, que Jacques Tourneur mostra o que é um grande diretor.
(IA)

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