São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
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Walter Salles quer consultar imagens

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

O diretor de cinema Walter Salles ("Terra estrangeira") não esconde que seu "maior prazer é ir para a sala escura" (as palavras são suas), mas também reconhece que sem o vídeo seria impossível rever seus filmes preferidos ("Limite", "O Passageiro - Profissão: Repórter" e "O Homem de Aran") e algumas das mais importantes cenas desses 100 anos do cinema.
"O Truffaut tinha razão quando disse que para ver cinema é preciso ter o prazer de sentar na sala escura e comungar com outras pessoas. Já o vídeo, é um excepcional mecanismo de consulta. Eu acho fantástico que ele exista pois é o sinal da permanência de alguma coisa. A videoteca é um fantástico catálogo de imagens para consultas", disse.
"A morte de Annie Girardot em 'Rocco e Seus Irmãos', de Visconti, é a mais bela morte do cinema", lembra. O diretor recorda ainda a cena em que uma multidão de camponeses reza para que venha a chuva em "A Linha Geral", de Eisentein. Conforme uma nuvem se aproxima, o fervor aumenta. A nuvem passa. Resta apenas o vazio e a desolação. Cita também o discurso do príncipe de Salinas (Burt Lancaster) em "O Leopardo", também de Visconti, em que o nobre explica por que a Sicília -cansada- não quer fazer parte da nova República que se instaura no continente. Dos três, apenas o primeiro está disponível no mercado brasileiro de vídeo (veja lista com algumas das preferências do diretor em quadro à direita).
Estes três filmes são, além de aulas de cinema, aulas de história. Reproduzem as motivações políticas e sociais de seus autores e do momento histórico em que foram concebidos.
Se o discurso for deslocado para o Brasil, teremos pelo menos dois bons exemplos que comprovam isso: "São Paulo S/A", de Luiz Sérgio Person, e "Bye Bye Brasil", de Cacá Diegues.
"Se você quiser entender o processo de industrialização do Brasil e todos os juízos éticos e morais do país é preciso ver 'São Paulo S/A' ". Infelizmente, por uma grande falha do mercado brasileiro de vídeo, este clássico ainda não foi lançado.
Ainda dentro do cinema brasileiro, Walter Salles cita "Bye Bye Brasil", de Cacá Diegues, como um filme-aula. "Se você pega tudo o que saiu na TV nos anos 70, não terá o conteúdo sobre o Brasil que tem 'Bye Bye Brasil' ", disse.

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