São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
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Esclarecimentos; Sivam

Esclarecimentos
"Em razão das reportagens 'Empresa de assessor trabalha para governo' e 'Jornalistas faziam dossiês de adversários', além do quadro 'Ligações perigosas', ambos publicados à pág. 1-5 da edição de 25/11 da Folha de S. Paulo, a Agência de Comunicação Free Press Ltda. vem prestar alguns esclarecimentos que se fazem necessários para restabelecer a verdade e apontar algumas falhas na apuração jornalística. Em primeiro lugar, a reportagem 'Empresa de assessor trabalha para governo' insinua que o contrato entre a Free Press e o Ministério da Justiça para a produção de fotografias teria sido feito como favorecimento a uma empresa que trabalhou na campanha do hoje presidente da República, esquecendo-se de ressaltar que o contrato foi obtido por meio de licitação pública em caráter nacional, com a participação de outras seis empresas. Vale lembrar que a conduta da empresa é de não aceitar contratos com o setor público, principalmente com o governo Fernando Henrique, sem que seja por um processo transparente de licitação pública, o que, todos devem reconhecer, é fato raro na história da relação entre governos e empresas que atuaram nas campanhas políticas de seus mandatários. Como se não bastasse, o repórter Alexandre Secco simplesmente ignorou cópia da carta de desligamento da empresa que o sócio Augusto Fonseca lhe remeteu por fac-símile na tarde da sexta-feira, 24. Mais grave: como ainda persistia a dúvida se o desligamento teria sido efetivado ou não na Junta Comercial, no final da tarde o sócio Augusto Fonseca, hoje licenciado para exercer função de confiança no Incra, telefonou para o coordenador de política da Folha de S. Paulo na sucursal de Brasília, jornalista Valdo Cruz, informando o número do protocolo de entrada da carta de desligamento na Junta Comercial. Tudo isso foi desconsiderado, o que, convenhamos, não é o comportamento normal da Folha de S. Paulo . Sobre a reportagem 'Jornalistas faziam dossiês de adversários', a jornalista Gabriela Wolthers, que assina o texto calunioso, deveria, no mínimo, ter o bom senso de dirigir-se à chefia da Sucursal para declarar-se impedida de escrever qualquer reportagem relacionada ao caso da escuta telefônica, uma vez que é filha de executivo de uma das empresas que aparecem em contato com o embaixador Júlio César Gomes dos Santos no 'grampo' feito pela Polícia Federal e amplamente divulgado pela imprensa. Quanto à acusação de que a Free Press foi contratada pela campanha FHC para preparar dossiês contra adversários de Fernando Henrique Cardoso, a reportagem é leviana, mentirosa e, principalmente, mal informada. Sobre esse assunto, aliás, nada melhor que consultar o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, na época coordenador-geral da campanha, para saber o verdadeiro papel da Free Press na campanha eleitoral. Se a jornalista sabia da existência de uma fábrica de dossiês no comitê do então candidato Fernando Henrique Cardoso, por que não publicou essa informação durante a campanha eleitoral, já que era a jornalista designada pela Folha para cobrir o dia-a-dia da campanha? Que interesses teria em omitir tão preciosa informação? Outra leviandade é afirmar que os dois jornalistas -Augusto Fonseca e Mino Pedrosa- têm 'estreitas relações' com a comunidade de informações só porque um deles admitiu que possui fontes na Polícia Federal. Seria o mesmo que dizer que o setorista de polícia tem estreitas ligações com o tráfico de drogas ou que o setorista de reforma agrária tem estreitas ligações com os assassinatos no campo. O quadro 'Ligações perigosas' traz exemplos perfeitos para comprovar a teoria de Umberto Eco sobre os ruídos na comunicação. O jornalista Mino Pedrosa afirmou que no dia 14 revelou a Augusto Fonseca que tomara conhecimento do 'grampo' na casa do embaixador Júlio César dos Santos e que repassara a informação à revista 'IstoÉ'. O quadro modifica a história ao afirmar: 'Diz ter entregue o dossiê da PF para Augusto Fonseca e para a imprensa'. O jornalista Augusto Fonseca disse que recebeu de Mino Pedrosa, no dia 14 de novembro, a informação de que ele, Mino, havia tomado conhecimento do 'grampo' e repassado a notícia à 'IstoÉ'. De posse dessa informação, Fonseca a transmitiu a Francisco Graziano. O quadro da Folha deturpa e afirma: 'Diz ter passado o dossiê da PF para Graziano'."
Wilson Menezes Pedrosa, sócio-gerente da Free Press (Brasília, DF)

Resposta dos jornalistas Alexandre Secco, Valdo Cruz e Gabriela Wolthers - A reportagem da Folha informou que a Free Press disputou concorrência com outras seis empresas. Embora Fonseca trabalhe no Incra desde outubro, o seu pedido de desligamento foi protocolado na Junta Comercial apenas no último dia 22 de novembro. Depende agora de providências complementares. Segundo a Junta, ele continua integrando a sociedade. A Folha mantém a informação de que Fonseca e seu sócio Mino Pedrosa faziam dossiês de adversários durante a campanha de Fernando Henrique Cardoso. Prática, aliás, confirmada na carta, que, na ausência de melhor argumento, apela para a árvore genealógica da repórter.

Sivam
"Muito oportuno o artigo do professor Cerqueira Leite 'O Sivam e as forças ocultas' (24/11). Não está em discussão o mérito da necessidade de se ter um monitoramento do espaço aéreo da região amazônica. O que não se pode permitir é que um projeto visivelmente mal conduzido, aparentemente obsoleto e superfaturado, transforme nossa região em isca para a captação de recursos externos para um empreendimento que poderá juntar-se às 2.214 obras inacabadas existentes no país."
Sebastião Rocha, senador pelo PDT-AP (Brasília, DF)

"A cortina de fumaça levantada sobre a questão dos 'grampeamentos' não pode abafar o escândalo da Raytheon. O Sivam é necessário para a Amazônia e para o Brasil, mas os cientistas brasileiros demonstram ser possível implementá-lo com desenvolvimento científico e tecnológico nacional. O artigo de Rogério C. Leite (24/11) também deixa isso claro. O grande absurdo foi o governo, no dia 22/11, no meio do escândalo, renovar o contrato com a Raytheon. Depois de ter tentado por três vezes na Comissão de Defesa Nacional trazer os cientistas para depor, consegui a aprovação no dia 23/11. Creio que esses depoimentos permitirão provar que essa 'licitação' de US$ 1,4 bilhão é desnecessária e que poderemos realizar o projeto -sem 'caixa-preta' e com desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil."
José Aristodemo Pinotti, deputado federal pelo PMDB-SP (São Paulo, SP)

"Quero saber que providência FHC e sua turma irão tomar com os envolvidos com o projeto Sivam."
Clarice Gosse (Campinas, SP)

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