São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
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Como fazer dinheiro

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Diz-se que dinheiro não traz felicidade. Pode ser. De carteira cheia, porém, ainda que tudo dê errado, sempre se poderá pagar um bom analista ou embarcar para as Polinésias. Só para relaxar.
De resto, não consta que a falta de dinheiro deixe alguém menos infeliz. Por isso é que, rico ou pobre, o homem continua correndo atrás do vil metal.
Pode-se obtê-lo de diversas formas: encharcando a camisa, empunhando um calibre 38, ganhando na loteria, abrindo uma igreja...
Mas poucos tiveram tanta criatividade quanto os bancos da era do real. Sob Fernando Henrique, uma banca falida pode fazer misérias.
Note-se, a propósito, o que está acontecendo agora nos subterrâneos de Brasília. Ali, bem longe das vistas do contribuinte e sob o olhar complacente do Congresso, os Magalhães Pinto, donos do falido Nacional, estão cobrindo uma bela dívida sem desembolsar um tostão.
O Nacional, como se sabe, foi dividido em dois. A parte boa foi para o Unibanco. A podre, com rombo de R$ 4 bilhões, ficou para o Banco Central. Fez-se então um negócio da China.
O BC adiantou R$ 2 bilhões para o Nacional. Com esse dinheiro, os Magalhães Pinto arremataram no mercado, com deságio de 60%, R$ 5 bilhões em papéis "micados" do próprio governo.
Em seguida, o BC recebeu o mico comprado pelo Nacional. Aceitou trocar os R$ 5 bilhões podres por uma linha de crédito que vai assegurar ao Nacional a liberação de R$ 4 bilhões salubérrimos.
Assim, o papelório podre retornou às mãos do governo, o Nacional cobriu um buraco de R$ 4 bilhões sem pôr a mão no bolso, o Unibanco fechou um grande negócio e o contribuinte perdeu R$ 4 bilhões.
Não é pouco dinheiro. André Lara Resende fez as contas em sua coluna de ontem. Aplicados a 5% ao ano, pagariam eternamente salários mensais de R$ 1.700 a 10 mil professores.
Até o momento, o Nacional sacou R$ 2,6 bilhões por conta da providencial linha de crédito. Até o final do ano, deve sacar o resto. Ainda que se considere a hipótese de que os Magalhães Pinto venham a ser incomodados no futuro, só terão de pagar os R$ 2 bilhões generosamente adiantados pelo BC.

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