São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Entidade denuncia extorsão em 50 bingos

CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Adebin (Sindicato das Empresas Administradoras de Bingo), Janos Wessel, afirmou ontem que 50 bingos de São Paulo foram pressionados a pagar, em média, US$ 300 mil cada um para ser liberados do relatório final da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Bingos.
Em todo o Estado, existem cerca de 60 bingos. Caso não pagassem, disse Wessel, as empresas seriam apontadas no relatório como vinculadas à prostituição, lavagem de dinheiro ou sonegação fiscal.
A Folha apurou que uma das hipóteses da CPI é pedir o fechamento definitivo de determinados bingos em seu relatório final.
Segundo Wessel, a maioria dos proprietários dos bingos de São Paulo se submeteu à suposta extorsão, que teria sido articulada por deputados federais da CPI, e pagou o valor solicitado.
Os empresários teriam atendido ao pedido, diz Wessel, para deixar de ser pressionados e ameaçados pelos deputados.
As afirmações foram feitas no escritório do advogado Cássio Paulette, que orienta, além de Wessel, um dos sócios do Bingo Liberty, em São Paulo, Ricardo Steinfeld.
Wessel disse que pretende apresentar o nome das pessoas que receberam dinheiro dos proprietários de bingos durante depoimento hoje, na CPI, em Brasília, mas afirmou que o deputado federal Marquinho Chedid (PSD-SP) é o autor intelectual da maioria das pressões sobre os empresários.
O presidente da Adebin disse que pretende levar à Câmara um proprietário de cinco bingos em São Paulo que teria iniciado as negociações para o pagamento do suborno diretamente com Marquinho Chedid.
Seria a primeira vez que o deputado teria agido diretamente nas tentativas de extorsão. Nas demais pressões sobre proprietários de bingo, Chedid teria utilizado intermediários, entre eles o advogado Francisco Franco e Alejandro Ortiz, também proprietário de bingos.
Wessel, dono da rede de bingos Guaritão, não quis revelar o nome desse empresário.
Chedid nega a acusação e diz que pretende processar todas as pessoas que têm vinculado seu nome à suposta extorsão.
Durante a entrevista, o advogado Paulette e o empresário Steinfeld afirmaram que a convocação de donos de bingo para depor hoje na CPI tem por objetivo "esvaziar" as investigações feitas pela Corregedoria-Geral da Câmara sobre as denúncias de extorsão contra os deputados.
"Está evidente que é uma articulação política (a convocação) para prejudicar as investigações sobre os deputados", disse Paulette.
Na opinião dos proprietários de bingo, ao convocar empresários que vêm acusando os deputados de extorsão, a CPI estaria desestimulando outros donos de bingos a vir a público e denunciar tentativas de extorsão.
Para o advogado, "o melhor que a CPI poderia fazer era aguardar a Corregedoria concluir suas investigações" para só depois convocar os deputados.
A presidente da CPI, deputada Zulaiê Cobra Ribeiro (PSDB-SP), discorda da avaliação dos empresários. "Eu tenho o dever de colher os depoimentos para saber quais seriam as facilitações que receberiam".
Zulaiê também convocou Marquinho Chedid para depor.

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