São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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A resistência de Palmares

HUMBERTO F. MACHADO

Diversas manifestações ocorreram neste ano pelo tricentenário da morte de Zumbi. O 20 de novembro foi transformado no dia da "consciência negra", uma homenagem a um dos principais chefes do quilombo de Palmares, o mais conhecido centro de resistência dos escravos no Brasil.
Os quilombolas de Palmares -que conseguiram se fortalecer em boa parte por causa das divergências entre as elites- resistiram durante um século às forças dos senhores, que estavam mais preocupados com as invasões dos holandeses em Pernambuco. Fora dessa região, existiram vários quilombos que não ganharam o destaque do comandado por Zumbi.
A maioria dos quilombos, durante o século 18, ocorreram na Capitania de Minas Gerais, em virtude da violência que caracterizava a exploração do ouro.
Na Bahia, a truculência das autoridades governamentais, que reprimiram fortemente os negros muçulmanos durante o episódio conhecido com Revolta dos Malês, em 1835, também contribuiu para a formação de focos de resistência escrava nas proximidades de Salvador.
Na área cafeeira fluminense, a situação não era diferente. O quilombo mais numeroso dessa região, liderado por Manuel Congo, em Pati do Alferes, foi destruído, em 1838, pelas forças lideradas pelo coronel Luiz Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias.
Na medida em que se aproximava a extinção legal da escravidão, as fugas e o estabelecimento de quilombos se intensificaram. Em São Paulo, a ação dos caifazes, grupos de abolicionistas liderados pelo jornalista Antonio Bento, apoiava a fuga de escravos para o quilombo do Jabaquara, na Baixada Santista.
A formação de quilombos -impulsionada pelas condições de vida precárias dos escravos e facilitadas pelas divergências entre as elites- representava um avanço na luta dos cativos contra os senhores, uma vez que as fugas isoladas marginalizavam os negros, transformando-os em eternos perseguidos, sempre sujeitos a serem presos e enviados de volta aos seus donos.
A proliferação de quilombos serve para demonstrar que a resistência do negro à escravidão foi uma constante, sendo parte estrutural do escravismo.

Humberto Fernandes Machado é professor adjunto do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro "Escravos, Senhores e Café. A Crise da Cafeicultura Escravista do Vale do Paraíba Fluminense/1860-1888" (ed. Cromos, 1993).

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