São Paulo, sábado, 2 de dezembro de 1995
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FHC faz defesa do Sivam em cerimônia de militares

CARLOS EDUARDO ALVES; CARLOS MAGNO DE NARDI; GABRIELA WOLTHERS
ENVIADO ESPECIAL A PIRASSUNUNGA

O presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), que está sob suspeita de tráfico de influência.
FHC aproveitou a presença na Academia da Força Aérea, em Pirassununga (SP), para esvaziar a pressão pela revisão ou cancelamento do Sivam.
FHC e a cúpula do Ministério da Aeronáutica participaram da solenidade de formatura dos cadetes daquela Arma.
O presidente hospedou-se desde anteontem à noite na academia e manteve conversas com o ministro da Aeronáutica, Lélio Lôbo, que se opõe a uma eventual revisão ou cancelamento do Sivam.
"O Brasil precisa controlar a Amazônia", disse FHC, para quem o sistema de radares é indispensável para controle do tráfego aéreo, combate ao contrabando e coleta de informações sobre ecologia, entre outros motivos.
Em um único momento da entrevista concedida após a cerimônia, FHC admitiu a possibilidade de paralisar o projeto.
Após lembrar que já havia retirado a empresa Esca do Sivam por causa de irregularidades, afirmou: "Se houver outra irregularidade, ou se corrige, ou, se não for possível corrigir, se cancela", declarou. O tom da entrevista, porém, foi de defesa do Sivam.
O presidente afirmou que o projeto já passara por várias comissões no Congresso, que tem financiamento "vantajoso" para o país e que, em sua análise, a Aeronáutica adotou procedimentos corretos no processo que levou à escolha da norte-americana Raytheon.
Para FHC, só um "motivo rigoroso" justificaria qualquer mudança no Sivam. "Se não houver isso, fica uma questão política menor e não fica bem para o Brasil", acha.
O presidente deixou claro o incômodo que lhe causam perguntas sobre o Sivam. "Não acho que ajuda ao Brasil um clima de excitação ao redor de um projeto necessário ao país", disse.
Lôbo e FHC discutiram a convocação do Conselho de Defesa Nacional para o debate do projeto Sivam. "Gostaria de saber a opinião do conselho", afirmou o presidente. "A questão é originária do conselho", disse. FHC não anunciou a data em que convocará a reunião do conselho.
A possibilidade de abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso Sivam foi criticada veladamente pelo presidente.
Mesmo ressalvando que é um direito dos parlamentares a formação de CPIs, FHC disse que vários de seus ministros já compareceram, em diferentes fases, ao Congresso para a prestação de esclarecimentos sobre o projeto.
FHC manteve o semblante sério durante quase toda a solenidade. Ele chegou a São Paulo às 12h50. No aeroporto de Congonhas, trocou o avião da FAB por um helicóptero que o conduziu até o estádio do Pacaembu.
À noite, FHC participou da inauguração do prédio do Centro Cultural Itaú na av. Paulista. Chegou ao local às 21h15, com a mulher, Ruth, e a filha Beatriz. Não falou com os jornalistas.
Em seu discurso, falou apenas sobre cultura. "Ao valorizar a cultura, o Itaú não se esqueceu da parceria entre Estado e governo."
Disse que o centro estar na av. Paulista é importante porque a avenida presenciou as mudanças na cidade nesses 50 anos.
Depois o presidente iria a jantar oferecido pelo presidente do Itaú, Roberto Setúbal, no Fasano.
Estavam presentes à inauguração do prédio, entre outros, José Sarney, Marco Maciel, Paulo Renato, Sérgio Motta, Francisco Weffort, Olavo Setúbal (presidente da Itausa), Roberto Setúbal e Luiz Antonio Fleury Filho.

Colaboraram CARLOS MAGNO DE NARDI, da Reportagem Local, e GABRIELA WOLTHERS, em São Paulo

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