São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Pessimismo provoca doenças, diz cientista

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Excesso de pessimismo provoca doenças e mata -os otimistas, ao contrário, teriam mais condições de superar doenças e sobreviver. Os efeitos do pessimismo foram revelados, semana passada em Nova York, em conferência da Fundação Médica de Saúde, estimulando ainda mais a moda da inteligência emocional -o otimismo é supostamente um dos ingredientes dessa inteligência.
Cientistas exibiram pesquisas mostrando que o pessimista tenderia a ser contaminado pelo chamado "Efeito Nocebo" -por acreditar que ficará doente, acabaria contraindo algum problema.
O "Nocebo" é o contrário de Placebo. O Placebo é um remédio falso usado em experiências. Um grupo toma um remédio de verdade; outro o Placebo. Constatou-se que, muitas vezes, o Placebo funciona porque produziria efeito psicológico, já que o paciente acreditaria que ficaria curado.
Esse "Efeito Placebo" é, muitas vezes, encontrado nas religiões espíritas e pentecostais. Elas estimulam confiança na cura através de supostos milagres.
Em sua exposição, Robert Hahn, do Centro Federal de Controle de Doenças, disse que já existem provas de que os pensamentos tanto podem promover saúde como doença.
Segundo ele, paciente com depressão tende a ficar doente mais vezes do que os otimistas -e também aumenta sua probabilidade de morrer. Hahn atribui 5% das mortes por doenças do coração apenas às expectativas dos pacientes.
O psicólogo Daniel Goleman, de Harvard, hoje o maior propagador da chamada inteligência emocional (a capacidade de administrar pacificamente conflitos, manter autocontrole, evitar depressão e ansiedade excessivas), coletou pesquisas com vítimas de ataques cardíacos.
Por oito anos foram estudadas na Califórnia 122 vítimas de ataques cardíacos. Cada uma delas foi separada por suas características pessimistas e otimistas, usando graduações.
Na conferência, foram apresentadas pesquisas sobre jovens no Canadá. Havia doenças da moda em que jovens apresentavam sintomas iguais, sem, entretanto, terem qualquer problema -eles apenas se convencem de que sentiram esses efeitos e acabam mesmo sentido.
Professor de Medicina de Harvard, Hebert Benson, em sua exposição, disse que medos, ansiedade e depressão produzem uma reação química no cérebro -daí haveria estímulos negativos ao coração. Segundo ele, porém, ainda vai levar muito tempo para os médicos americanos mudarem seu tratamento com o paciente para cuidar dos aspectos psicológicos de uma doença que, de fato, apresenta sintomas físicos.

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