São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Queda de preço afeta garantia bancária

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

A queda de preços de bens dados em garantia de empréstimos (como automóveis) intranquiliza o mercado financeiro, dada a crescente inadimplência (atraso nos pagamentos) de empréstimos.
Roberto Faconti, diretor da Bolsa Nacional de Imóveis, diz que os bancos realizam a avaliação do imóvel dado em garantia e fazem um empréstimo de no máximo 50% do valor. Os bancos levam em conta não só a menor liquidez (dificuldade de venda rápida) dos imóveis como eventual queda nos preços.
Estão ocorrendo restrições a imóveis dados em garantia de empréstimos, pois o mercado imobiliário enfrenta redução na velocidade de venda e queda nos preços dos aluguéis.
Toshiro Kobayashi, diretor internacional do Kumon Institute of Education, diz que uma das principais razões da crise bancária no Japão foi a utilização de imóveis superavaliados na garantia de empréstimos. Hoje há um processo de fusões e aquisições de bancos na economia japonesa com a ajuda do governo do país.
Kobayashi diz que as distorções chegaram a tal ponto que um restaurante japonês chegou a levantar US$ 1 bilhão em empréstimos com base em sua localização. O valor corresponde ao patrimônio do Banco Nacional (adquirido recentemente pelo Unibanco).
A inadimplência preocupa os bancos brasileiros. O número de requerimentos de falências na cidade de São Paulo em novembro bateu o recorde histórico (1.309), segundo dados da Associação Comercial de São Paulo.
Elvio Aliprandi, presidente da associação, diz que a flexibilização dos depósitos compulsórios dos bancos ainda não melhorou a oferta de crédito para as empresas de menor porte.
As instituições financeiras preferem aplicar o dinheiro liberado (do compulsório) para a aquisição de títulos públicos. Os bancos não emprestam para as micro e pequenas empresas por temerem a inadimplência e as firmas tornam-se insolventes pela falta de crédito, diz Aliprandi.
A inadimplência (atraso nos pagamentos) reflete-se nos 20 balanços de bancos já divulgados, relativos aos primeiros nove meses de 1995. Segundo análise da consultoria Austin Asis, a inadimplência média foi de 4,47%, contra uma média histórica de 1%.
Houve instituições de pequeno porte que apuraram inadimplência no balanço de nove meses superior a 20% de sua carteira de empréstimos.
Charles Holland, presidente da Anefac, associação que reúne executivos de finanças, administração e contabilidade, diz que com a queda das taxas inflacionárias chegou a hora do "choque da verdade".
Segundo ele, a inflação encobria problemas, pois o valor das contas em atraso era corroído pela não-atualização monetária. As empresas endividadas têm agora dificuldades para honrar seus compromissos, por causa dos juros altos. A situação se reflete no balanço dos bancos, diz Holland.
Fernando Gentil, presidente do ING Bank, diz que sua instituição atua mais na área de investimentos, observando, no entanto, que os bancos comerciais estão deixando uma margem para o caso de queda nos preços dos imóveis ou automóveis dados em garantia de empréstimos.
Antonio Jacinto de Souza, superintendente de operações da Serasa, diz que os índices de inadimplência (atraso nos pagamentos) em 95 foram recordes em 27 anos da instituição (que centraliza informações de bancos). O número de títulos protestados superou em 99% ao dos primeiros dez meses de 1995. As concordatas cresceram 322% no mesmo período.
O aperto maior na política monetária do Banco Central foi em maio. A partir de maio, o BC está gradualmente reduzindo os juros. Os dados da Serasa mostram que o número diário de títulos protestados atingiu um pico de 35,1 mil e depois foi declinando até 25,5 mil em outubro.

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