São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995
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Representante da Raytheon foi ligado a PC

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

José Afonso Assumpção, o representante de vendas da Raytheon no Brasil, fazia parte do esquema PC, o Paulo César Farias, que foi tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor e o pivô do escândalo que levou ao impeachment de Collor, em 1992.
É o que indica o relatório final da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que apurou o caso PC, aprovado não só pelos membros da comissão como pelo plenário da Câmara.
Assumpção, como proprietário da Líder Táxi Aéreo, tinha negócios com a Brasil-Jet, a empresa de PC que, na prática, funcionava como verdadeira lavanderia de dinheiro.
A CPI determinou perícia em 29 notas fiscais emitidas pela Brasil-Jet em favor da Líder, no período de 2 de outubro de 1990 a 28 de dezembro do mesmo ano.
Nesse curto espaço de menos de três meses, o valor das notas fiscais foi de Cr$ 131.996.453, correspondentes a US$ 1.061.365,47.
Diz o relatório final da CPI: "Existem elementos indiretos que permitem evidenciar também nesse caso a ocorrência de manobras fraudulentas".
A seguir, o relatório vai listando os elementos suspeitos contidos na comparação entre as datas dos supostos vôos contratados junto à Líder, as notas fiscais emitidas, a data também das notas e o valor de cada uma delas.
O indício mais evidente das "manobras fraudulentas" citadas no relatório da CPI aparece nas notas fiscais numeradas de 1 a 12. Diz a CPI:
"O relatório de pousos e decolagens do DAC-Infraero não registra nenhum dos vôos da aeronave PT-OHU referidos nas faturas de 1 a 12".
Nas demais 17 notas fiscais, "os trajetos constantes do livro-diário da Líder não coincidem com aqueles enumerados nos relatórios de pouso e decolagem do DAC-Infraero".
O DAC é o Departamento de Aeronáutica Civil, que controla os vôos, e a Infraero é a estatal responsável pelos aeroportos.
Fantasma
Outro poderoso indício de manobras é o aparecimento de um dos "fantasmas" que povoaram o caso PC. Trata-se de José Carlos Bonfim, em cuja conta corrente apareceram os valores relativos a cinco das notas fiscais.
Pior: "Os montantes relativos às NFs (notas fiscais) 12, 13, 16, 19 e 20 foram debitados na conta corrente do 'fantasma' José Carlos Bonfim e, na mesma data, creditados à conta corrente da Brasil-Jet".
Em outras palavras, o dinheiro que a Brasil-Jet supostamente devia à Líder saía da conta dessa empresa, passava pela de um "fantasma" e voltava à Brasil-Jet, no mesmo dia.
O relatório da CPI é um ingrediente a mais no caso Sivam, dado que a Raytheon, a empresa norte-americana que vai executar o projeto, contratou Assumpção como "representante independente de vendas", conforme notas que a Raytheon tem emitido pela Internet, a rede mundial de computadores.
Nas mesmas notas, a Raytheon diz que o acordo com o presidente da Líder "prevê especificamente" que seu representante não poderá, em hipótese alguma, envolver-se em qualquer ato de corrupção de autoridades ou de tráfico de influência.
É exatamente o que sugere o relatório da CPI, embora relativo ao caso PC e não ao caso Sivam.

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