São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995
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Falta definir política social, afirma Ruth

ALEXANDRE SECCO; DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A primeira-dama da República, Ruth Cardoso, afirmou que o governo ainda tenta definir sua política social e que, nesse contexto, o Comunidade Solidária é apenas um programa a mais.
"O governo está preocupado com as orientações gerais, para que lado deverão ir as políticas. Dentro disso, o Comunidade Solidária é só um programa", disse ela ontem no lançamento do projeto Universidade Solidária.
Esse projeto levará 1.000 estudantes universitários para cidades do interior. Lá eles trabalharão em projetos comunitários. É uma reedição do Projeto Rondon, que vigorou durante os anos de regime militar (1964-1985).
Ruth é presidente do conselho do programa Comunidade Solidária, criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para ser o responsável pelo encaminhamento das ações sociais do governo.
Ao fim de quase um ano de atividades, o programa está sob bombardeio do próprio governo, sindicatos e assistentes sociais.
Documento
Na semana que vem o presidente Fernando Henrique deve receber uma carta com o pedido de extinção do Comunidade Solidária. "O fim do programa é um problema do governo", disse Ruth.
O documento preliminar foi aprovado por mais de 1.000 participantes do 1ª Conferência Nacional de Assistência Social, realizado em Brasília em novembro.
Assinam o documento representantes de ministérios (Trabalho Previdência), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e entidades assistenciais. Segundo o documento do encontro, o programa "mantém as mesmas práticas clientelistas do passado".
Com o seu Comunidade Solidária recebendo críticas das entidades assistenciais, a primeira-dama afirmou ontem que a proposta inicial do programa previa ajustes em sua condução.
"A idéia era que a gente fosse se adaptando, se ajustando. Isso é de natureza de qualquer programa", afirmou.
Isso não significa que o Comunidade Solidária será revisto. Ruth deixou claro ser possível uma "adaptação" à realidade conjuntural e limitações como Orçamento da União, por exemplo.
Anteontem, o presidente Fernando Henrique disse não haver razão para alterar o plano de ação social do governo.
No Palácio do Planalto, durante a assinatura do programa de distribuição de leite a famílias carentes, que incorporou mais 251 municípios, a primeira-dama disse que "tudo o que o Comunidade Solidária quis realizar até agora está sendo realizado".
Ruth afirmou estar recebendo as críticas sobre o programa com a "disposição de mostrar o que se está fazendo". "Essa é a opinião das entidades. Em uma sociedade democrática é perfeitamente normal, todos podem opinar", disse a primeira-dama.
A mulher de FHC acrescentou que o governo está preocupado com as orientações gerais do Comunidade Solidária.
"Saber para que lado deve ir a política social como um todo e não só o Comunidade Solidária", afirmou. A Folha apurou que a Casa Civil estuda uma estratégia para convencer a população sobre a abrangência dos trabalhos na área social.
Ruth negou que o programa tenha fugido de seu propósito e negou uma crise no conselho interno, do qual é presidente. "O que vejo são resultados em uma atividade que vem dando muitos frutos", afirmou.
Universidade Solidária
Segundo o Palácio do Planalto, o programa Universidade Solidária, lançado ontem por Ruth, contará com o apoio de 62 universidades do país, de 20 Estados.
Os primeiros 1.000 estudantes que se inscreverem vão receber um treinamento entre 8 e 16 de janeiro próximo.
Esses voluntários vão ser acompanhados de 100 professores para trabalhar em 100 municípios do Nordeste e do Vale do Jequitinhonha (norte de Minas Gerais e uma das regiões mais pobres do país).
As cidades escolhidas pelo Comunidade Solidária para ser atendidas pelos universitários têm uma população entre 10.000 e 30 mil habitantes.

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