São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995
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ABL elege hoje o seu novo presidente

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Pela primeira vez em 98 anos de vida, a ABL (Academia Brasileira de Letras) rompe a tradição do consenso na disputa pela presidência e vive hoje uma eleição com dois candidatos, identificados com direita e esquerda da academia.
Houaiss é apoiado pela chamada "ala esquerda". Ouvidos pela Folha, declararam voto a seu favor os romancistas Antonio Callado e Lygia Fagundes Telles, o advogado Evaristo de Moraes Filho, o dramaturgo Dias Gomes e o jornalista Barbosa Lima Sobrinho.
Lêdo Ivo teve a candidatura inicialmente lançada pelo atual presidente, Josué Montello, 78. Devem apoiá-lo, entre outros, o ex-ministro Oscar Dias Corrêa, o empresário Roberto Marinho e o contista Geraldo França de Lima - que declarou o voto.
Durante a semana, houve rumores de que Lêdo Ivo desistiria da disputa. "Vim porque os amigos pediram. Minha candidatura é inarredável", disse o poeta, propondo-se a "unificar a Academia".
Os imortais -como são chamados os acadêmicos- recusam-se a admitir a cisão direita-esquerda. "Não estamos votando por ideologia. Acho até que deveríamos ter um só candidato, porque isso é uma academia de letras", afirmou Lygia Fagundes Telles.
A escritora defende também que a eleição do presidente possa ser feita por correspondência, método já usado na indicação de novos acadêmicos. Muitos imortais que vivem fora do Rio, como Jorge Amado, não devem vir à votação.
A divisão entre os imortais revelou-se no início do ano, quando Montello indicou o livro "Lanterna na Popa", de Roberto Campos, para receber o prêmio Antônio Ermírio de Morais.
Houaiss, Callado, Dias Gomes e Darcy Ribeiro defenderam -e perderam- a premiação de "Chatô - o Rei do Brasil", de Fernando Morais. Daí surgiu a candidatura Houaiss. Lêdo Ivo é acusado de ter sido escolhido por Montello para assumir a presidência agora e preparar uma nova eleição do atual presidente em 1997.
Os dois negam a manobra. Montello disse que não apoiou ninguém e até sugeriu que Lêdo Ivo assumisse um cargo de secretário na chapa de Houaiss. "Embora não tenha feito a aritmética, vejo que Houaiss está bem forte."
A previsão do próprio Houaiss é otimista. Acha que menos de 20 dos 40 acadêmicos irão votar, e que terá o dobro de votos do concorrente. Mas também nega a cisão direita-esquerda.
"Sou de esquerda, sempre fui. Aqui eles me acham de esquerda demais. Mas como vou ser esquerda na academia? Não é isso que está em jogo, o presidente precisa administrar", disse.
Houaiss e Lêdo Ivo têm propostas em comum para a ABL: preparar as comemorações do centenário, reativar o centro cultural e concluir um dicionário da língua portuguesa.

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