São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo quer evitar interferência do Cade

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal quer mudar a lei antitruste para evitar a interferência do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão ligado ao Ministério da Justiça) nas privatizações.
Uma comissão interministerial formada para estudar o assunto vai sugerir ao presidente Fernando Henrique Cardoso que envie ao Congresso Nacional um projeto de lei modificando o artigo 54 da lei antitruste.
Esse dispositivo obriga a apreciação pelo Cade de compras, fusões e incorporações de empresas que resultam em domínio superior a 20% do mercado.
O artigo 54 permite ao conselho interferir na administração dessas empresas -impondo políticas de preços ou de distribuição de produtos- e até determinar a dissolução de negócios.
A comissão interministerial analisa duas propostas de alteração da lei antitruste. Uma é a eliminação pura e simples do artigo 54.
A outra alternativa é obrigar as empresas a apenas informar ao Cade compras e fusões de empresas. Neste caso, o Cade não teria poder para determinar a dissolução de negócios -mas apenas para vigiar a sua atuação.
A rigor, o governo deveria ter submetido ao Cade os leilões de privatização, pois a análise é obrigatória para aquisições de empresas públicas e privadas. Até agora, entretanto, nenhuma privatização passou pelo crivo do Cade.
Alguns dos conselheiros do Cade já têm manifestado preocupação com a política de privatização, principalmente do setor siderúrgico. Eles acham, de forma reservada, que o governo pode ter incentivado a formação de oligopólios.
O governo parte do pressuposto de que, em si, o domínio de mercado não prejudica a livre concorrência.
O problema seria o uso desta posição dominante para, por exemplo, aumentar margens de lucros.
Para o governo, o setor siderúrgico só é viável em situação de oligopólio. Isto porque exige grande investimentos e só tem retorno financeiro quando operado em altos níveis de produção.
O grupo interministerial reúne-se informalmente e decidiu apressar o envio da proposta ao legislativo depois do episódio da Pains. Ele é formado por representantes dos ministérios da Fazenda, Indústria e Comércio, Planejamento e Justiça.

Texto Anterior: Bancos estaduais operam mais AROs
Próximo Texto: Detalhes atrapalham o acordo do Banespa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.