São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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"Vazamento" serve a grupos de ACM e Covas, diz Loyola

ANDRÉ LAHÓZ; FERNANDO RODRIGUES
EDITOR DE ECONOMIA

FERNANDO RODRIGUES
O presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, negou ontem envolvimento da diretoria da instituição com o "vazamento" de informações da pasta cor-de-rosa, que conteria uma lista de políticos beneficiados com doações financeiras do Banco Econômico em 90.
Loyola concedeu duas entrevistas à Folha, uma por telefone e outra pessoalmente, no BC em São Paulo. Disse que a pasta sempre ficou guardada num cofre.
Para ele, pessoas que teriam interesse em enfraquecer o BC "vazaram" a pasta. Citou o presidente afastado do Banco Econômico, Ângelo Calmon de Sá. "Ele é um bom suspeito", afirmou.
Na sua opinião, outros suspeitos fariam parte do chamado "grupo político baiano", ligado ao senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Seria uma vingança por causa da intervenção no Econômico, em 11 de agosto.
À época, ACM se opôs à decisão. O senador chegou a ameaçar o governo de rompimento.
Outra possibilidade, diz o presidente do BC, seria a de membros do PSDB paulista estarem se vingando do BC pela intervenção no Banespa. "Talvez não seja o Covas, mas alguém ligado a ele."
A seguir, os principais trechos gravados da entrevista de Loyola:

Folha - A pasta foi descoberta na semana de 11 agosto?
Gustavo Loyola - Eu acho que sim. Fiquei sabendo, talvez, uma semana ou dez dias depois. Não sabia o conteúdo. Tomei conhecimento dele só em setembro. Ficou uns 40 dias lá (em Salvador). É sintomático que muitos se apressaram em atribuir (o "vazamento") à diretoria do Banco Central. Evidentemente, são pessoas que têm interesse em enfraquecer o BC.
Folha - Quem são?
Loyola - Pessoas que tiveram seus interesses contrariados pelo BC. Por exemplo, aqueles que perderam o Econômico.
Folha - Ângelo Calmon de Sá?
Loyola - O próprio Ângelo ou os grupos ligados a ele.
Folha - O sr. acha, então, que ele poderia ter "vazado" a pasta?
Loyola - Por que não? Não vou dizer que sim. Mas, certamente, ele é...
Folha - ...Um bom suspeito?
Loyola - Ele é um bom suspeito.
Folha - Quando a pasta chegou ao sr., o que fez?
Loyola - Essa pasta foi colocada em um cofre e não foi tirada nenhuma cópia dela.
Folha - O sr. recebeu a informação do interventor no Econômico, Francisco Flávio Barbosa?
Loyola - Sim.
Folha - E ele não poderia ter feito alguma cópia?
Loyola - Acredito que não. Ele diz que não. É uma questão.
Folha - O sr. já chegou a pensar em pedir demissão?
Loyola - Não... Não. Eu acho que isso aí, o dia que você pensa você tem que fazer.
Folha - O que o sr. diz sobre as críticas do senador Antônio Carlos Magalhães?
Loyola - Eu não vou devolver as críticas. Agora, ele está errado ao dizer que o BC divulgou a pasta com interesse de prejudicá-lo ou de prejudicar outras pessoas.
Folha - Por quê?
Loyola - Não teria nenhum interesse para nós. Seria uma burrice a divulgação dessa pasta. Se houvesse interesse em atingir o senador, a gente poderia ter feito isso em outra ocasião, e não agora.
Folha - Em qual ocasião?
Loyola - Sei lá. Em qualquer outra ocasião, menos agora.
Folha - Mas o BC poderia ter esperado para divulgar depois...
Loyola - Não, essa pasta nunca seria divulgada. Seria encaminhada ao Ministério Público, ao fim do inquérito (do Econômico), que deve ser concluído lá para fevereiro. Em nenhum momento o BC divulga dossiês ou coisas do gênero.
Folha - Então, o sr. diz que, se quisesse prejudicar ACM, divulgaria a pasta em outra época?
Loyola - Por exemplo, na época da briga.
Folha - Na época da intervenção?
Loyola - É.

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