São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995 |
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Biografia desvenda os podres de Tarantino
MAURICIO STYCER
"Shooting From the Hip" (gíria que significa algo como "Agindo com Ímpeto"), do escritor e roteirista Wensley Clarkson (editora Piatkus, 11 libras), traça um retrato ambivalente do festejado diretor de "Cães de Aluguel". Clarkson vê com simpatia a trajetória inicial de Tarantino -a história do balconista-cinéfilo de uma locadora de vídeos que meteu na cabeça que um dia seria um cineasta de sucesso e conseguiu. Mas o autor é pouco indulgente com Tarantino ao narrar o que aconteceu após o sonhado sucesso. Clarkson dá voz a vários amigos da primeira fase que foram traídos ou abandonados e descreve como Tarantino tentou assumir a autoria de coisas que não escreveu. O episódio mais impressionante diz respeito à disputa pela autoria do roteiro de "Pulp Fiction" (1994) entre Tarantino e Roger Avary, seu amigo e colega na locadora Video Archives, em Los Angeles, no início dos anos 80, e que também virou cineasta (dirigiu "Parceiros do Crime" em 93). Uma das melhores histórias de "Pulp Fiction", a de Butch, o menino que recebe de herança o relógio que foi de seu pai e mais tarde vira um pugilista (Bruce Willis), foi escrita por Roger Avary. Tarantino pagou US$ 30 mil a Avary pelo uso da história em "Pulp Fiction" (no Brasil, "Tempo de Violência"), mas não deu crédito algum ao amigo ao receber, em janeiro de 95, o prêmio Globo de Ouro de melhor roteiro. Dois meses e muita discussão depois, ao receber o Oscar pelo roteiro do filme, Tarantino aceitou dividir o prêmio com Avary. Ao responder às acusações de que, em "Cães de Aluguel" (1992), plagiou sequências inteiras de um filme de Hong Kong chamado "City on Fire" (1987), de Ringo Lam, Tarantino disse: "Tenho o pôster desse filme na minha casa. É um grande filme. Eu roubo de todos os filmes. Adoro isso", disse em Cannes, ao ganhar a Palma de Ouro por "Pulp Fiction". Outro episódio pouco edificante diz respeito à relação do cineasta com sua empresária, Cathryn Jaymes, demitida por telefone em 1994, após dez anos de trabalho. "Você é a melhor empresária do mundo. O seu trabalho era deslanchar a minha carreira e, agora que minha carreira deslanchou, não preciso mais de você", teria dito o cineasta à empresária. Tarantino nasceu em 27 de março de 63. Sua mãe, Connie, tinha 15 anos quando conheceu e ficou grávida de um ator chamado Tony Tarantino -que a deixou três meses depois sem saber que seria pai. O verdadeiro pai de Tarantino acabou sendo o segundo marido de Connie, o músico Curtis Zastoupil. Curtis adotou Quentin oficialmente em 1967, mudando o nome do garoto para Quentin Zastoupil. Adulto, Quentin decidiu usar o nome do pai, mas para efeitos legais o seu sobrenome é Zastoupil. A sua adolescência foi a de um garoto normal, apaixonado por Homem-Aranha, "As Panteras", Brian de Palma e hambúrgueres, e inimigo total dos esportes. O seu primeiro emprego é como lanterninha num cinema pornô, de onde evolui, em 1980, para balconista da Video Archives. Ali, durante cinco anos, engoliu -e digeriu- alguns milhares de fitas. Desligado, Tarantino nunca deu muita bola para onde estacionava o carro -até o dia em que foi preso por dever US$ 7.000 em multas. Passou uma semana na cadeia e, segundo seu biógrafo, escapou por pouco de ser estuprado. Clarkson afirma ter entrevistado mais de 100 pessoas para escrever a biografia. Ao justificar tamanho esforço, diz: "Quentin é o primeiro diretor da história a ser tratado como rock star. Até hoje, só um jovem diretor gerou tamanha burburinho em tão pouco tempo: Orson Welles", exagera o autor. O livro pode ser importado pela livraria Cultura (011/285-4033) e pela Freebook (011/256-0577) Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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