São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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Brasileiros continuam confinados em Angola

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A LUANDA

A primeira companhia do batalhão brasileiro de infantaria em Angola continuava ontem confinada na cidade de Andulo pelos guerrilheiros da Unita (União pela Independência Total de Angola).
O comando das tropas de paz da ONU negou que algum brasileiro tivesse assediado sexualmente uma mulher angolana, uma das causas do conflito com a Unita citadas pela imprensa de Angola.
O incidente teria ocorrido em N'Harea, perto de Andulo. "Não houve brasileiros neste posto de observação nos últimos seis meses", disse o comandante das tropas da ONU em Angola, general Phillip Sibanda, do Zimbábue.
Ontem também se revelou que um grupo de 12 soldados do Zimbábue que escoltava um comboio perto de Negage foi interceptado pela guerrilha. Eles tiveram suas armas confiscadas e só foram liberados na quarta de manhã.
Sibanda declarou ontem que esses incidentes são "violações sérias" do acordo de paz, e um "comportamento inaceitável".
O comando do batalhão brasileiro também esclareceu outro incidente citado, de que um soldado evangélico ou um "pastor", segundo algumas versões, teria chamado o líder da Unita, Jonas Savimbi, de Judas.
Segundo o comando do 72º Batalhão de Infantaria Motorizado, cinco soldados participaram de um culto em que estavam oficiais da Unita. Um deles leu um trecho da Bíblia que teria sido mal interpretado. Um oficial brasileiro disse que o culto foi gravado, o que eliminaria dúvidas sobre o caso.
O confinamento dos brasileiros em Andulo parece ser um protesto da Unita contra uma ação militar do governo na Província de Zaire.
O comando dos capacetes azuis diz não se tratar de um "cerco", pois eles podem se movimentar pela cidade, mas não fora dela.
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, enviou ontem comunicado exigindo da Unita a "imediata suspensão" das restrições impostas à tropa.
As tropas da ONU de monitoramento do acordo de paz no país ainda não estão instaladas como era previsto, notadamente em regiões ao sul e leste do país.
Sibanda disse que os observadores em N'Harea deverão ser substituídos, e uma investigação será iniciada para checar as alegações da guerrilha.

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