São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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"Spy x Spy"

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O que é mais importante: descobrir quem deixou vazar informações confidenciais que levantam suspeitas sobre autoridades ou apurar as eventuais irregularidades em si?
Em circunstâncias normais, a resposta lógica seria: apurar as irregularidades, independentemente de quem tenha deixado que vazassem. Mas, nos dois casos de alguma semelhança que ocupam a agenda política no momento, a verdade é que as duas perguntas são relevantes.
No primeiro caso, o do "grampo" nos telefones do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, era importante saber o autor do "grampo" e subsequente vazamento por uma razão simples: tudo levava a crer que essa pessoa cultivava suspeitas -de alguma forma confirmadas pelo "grampo"- sobre o comportamento de um auxiliar próximo do presidente.
E, em havendo tal suspeita, era fundamental saber-se quem a alimentava, porque teoricamente deteria informações graves que não estava conseguindo fazer chegar ao conhecimento dos escalões superiores. Ou, na hipótese menos grave, porque revelaria um grau de intrigas palacianas comprometedor para qualquer governo.
No segundo caso, o da pasta rosa, dá-se o mesmo. Até onde a Folha pôde saber, o ministro José Serra, do Planejamento, alimenta a suspeita de que o vazamento teve participação de alguém do Banco Central, além do interventor no Banco Econômico, que, de todo modo, é também funcionário do BC.
Se for assim, é lógico supor que as divergências conhecidas e antigas entre Serra e parte do primeiro escalão do BC, em especial com Gustavo Franco, parecem ter chegado a um ponto em que se recorre a esse tipo de manobra para tentar atingir um adversário.
Ou, em outras palavras, há indícios para se suspeitar que os conflitos internos no governo são muito mais graves do que se supunha. Dá até a impressão de que o governo está na posição de cego em tiroteio, um tiroteio de resto promovido por facções do próprio governo. Nem o "Spy x Spy", célebre tira da revista humorística "Mad", seria capaz de imaginar um enredo tão cômico.
Resta ver se todos conseguirão rir da historieta toda, quando e se terminar, ou se apenas os culpados darão, ao final, boas gargalhadas, como aliás é da tradição brasileira.

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