São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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FHC nega complô e pede "bom senso"

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, antes de embarcar para uma viagem de 12 dias à China (veja quadro) que não entra "em conluios" e que não há complôs contra ele.
Disse ainda que "está faltando bom senso" no trato das denúncias e que a imaginação está substituindo os fatos.
FHC afirmou que é preciso parar de especular com a figura do presidente da República. Cobrou mais respeito às suas palavras.
Ele minimizou as crises porque passa o governo e considerou o episódio do Sivam superado, deu como encaminhada a resolução para a crise da pasta rosa e afirmou ter confiança na diretoria do Banco Central.
As reclamações de FHC foram feitas à imprensa momentos antes da cerimônia de transmissão de cargo para o vice-presidente Marco Maciel, ontem pela manhã, na Base Aérea de Brasília.
Na última quinta-feira, em reunião com o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), FHC disse que o vazamento das informações que constam da pasta do banqueiro Ângelo Calmon de Sá, do Econômico, tinha o propósito de prejudicá-lo. A pasta contém uma lista com nomes de políticos que teriam recebido ajuda do Econômico na campanha eleitoral de 90.
O senador, que atribui o "vazamento" das informações ao Banco Central, havia procurado FHC para reclamar. "Isso é contra mim", disse ACM.
"Ora, Antônio Carlos, você acha que isso é contra você? Não. Isso é contra mim", disse FHC. A conversa foi revelada pela Folha na edição de ontem.
Antes de embarcar, FHC ganhou da atriz Lucélia Santos -que integra a comitiva oficial- uma estatueta de um elefante em bronze. Ela representa a divindade hindu Ganesch, filho de Shiva e Pavarti, e funciona como "removedora de obstáculos", diz a atriz.
A seguir, os principais pontos da entrevista de FHC, concedida às 9h30 de ontem:
PASTA DO ECONÔMICO
"Quero deixar de uma vez por todas acertado que essas histórias de que eu tinha conhecimento de pasta rosa não são verdadeiras. (...) Essa questão já foi entregue ao procurador (Geraldo Brindeiro), que tem que ser dirimida. Aparentemente, não há nenhuma penalidade, nenhum crime. Se houver...
(...) Mas isso vai ser apurado. Eu tenho confiança na diretoria do Banco Central. Evidentemente nenhum diretor ia fazer uma inconfidência dessa natureza".
SIVAM
'Viram a questão do Sivam? Foi uma tempestade em copo d'água. Houve esclarecimento, e não existe nada de irregular. Então, vamos trabalhar, acreditar em nós mesmos, no Brasil. Vamos baixar um pouco a ansiedade para descobrir questões que podem parecer muito estranhas. Se forem, o presidente é o primeiro a corrigi-las".
COMPLÔS
"É preciso parar de especular, sobretudo com o presidente da República. É preciso ter mais respeito às palavras da autoridade. É preciso deixar de ficar imaginando sempre que há um conluio. O presidente não entra em conluio dessa espécie. Não estou sendo vítima de complô nenhum. Olha, aí, por exemplo, isso (a pergunta se era vítima de complôs). Não cabe. Não há complô nenhum".
ACM X BC
"Isso não é questão do presidente. O senador já esteve comigo com a justa indignação por ter sido surpreendido por informações que nem se sabe se procedência real têm. Vamos tratar essa questão com bom senso. Bom senso está faltando muitas vezes. E, quando falta o bom senso e a imaginação começa a substituir os fatos, aí então nós entramos numa turbulência desnecessária. O céu é de brigadeiro (diz olhando para o céu e para o avião presidencial estacionado em frente)".

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