São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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Centenário cataliza restauro de filmes

Cinemateca recupera 23 clássicos

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nem tudo está perdido. Entre os efeitos concretos de toda a badalação em torno dos (mais ou menos) cem anos do cinema está o novo impulso que se assistiu neste ano na luta pela preservação e restauro dos filmes.
No âmbito internacional, o sucesso do Projeto Lumière na Europa e a ofensiva de Martin Scorsese nos EUA já rendem frutos palpáveis. Por aqui, numa das primeiras colunas, cobramos o tradicional descaso frente ao patrimônio audiovisual brasileiro. Felizmente, ainda que tímido, algum progresso já pode ser constatado.
A Cinemateca Brasileira acaba de acertar com o governo federal dois acordos que propiciam o maior restauro em bloco de longas-metragens da história da instituição. Recursos módicos mas raros da secretaria do audiovisual do Ministério da Cultura (R$ 170 mil) e do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN (R$ 70 mil) vão permitir a recuperação de vinte e três títulos.
A lista vale por um supletivo em cinema brasileiro. Em ordem cronológica reúne "Fragmentos da Vida" de José Medina, "Ganga Bruta" de Humberto Mauro, "Simão, o Caolho" e "Mulher de Verdade" de Cavalcanti, "O Saci" de Rodolfo Nanni, "Agulha no Palheiro" e "Sol Sobre a Lama" de Alex Viany, "Sinhá Moça" de Tom Payne, "Na Senda do Crime" de Flamínio Cerri, "Depois Eu Conto" de José Carlos Burle, "Rio Fantasia" de Watson Macedo, "A Primeira Missa" de Lima Barreto, "A Grande Feira" de Roberto Pires, "Ganga Zumba" e "A Grande Cidade" de Carlos Diegues, "Porto das Caixas" de Paulo César Saraceni, "Terra em Transe" de Glauber Rocha, "À Meia-Noite Levarei Sua Alma" e "O Estranho Mundo de Zé do Caixão" de José Mojica Marins, "Trilogia do Terror" de Ozualdo Candeias, Luiz Sérgio Person e José Mojica Marins, "Fome de Amor" de Nélson Pereira dos Santos, "Bang Bang" de Andrea Tonacci e "Triste Trópico" de Arthur Omar.
O democrático pacote abraça quarenta anos de produção, da aurora do cinema a marcos do experimental dos anos 70, passando pelas chanchadas, aventuras industriais paulistas e Cinema Novo. Todos em preto e branco. "O restauro de filmes coloridos é muito caro", diz Tânia Savietto, diretora-executiva da Cinemateca.
"O critério foi a urgência, depois, a importância histórica por época". O restauro vai ser feito pela Cinemateca com os laboratórios Líder, que se engajou num desenvolvimento de tecnologia com supervisão do principal arquivo brasileiro de filmes.
Mas restaurar é um processo cirúrgico extraordinário, dada a falta dos cuidados preventivos. Continuando no exemplo da Cinemateca, enquanto 22 mil latas de filmes repousam hoje num depósito climatizado, mais de 100 mil latas do acervo estão estocadas sem os mesmos cuidados. Um projeto de um novo depósito, que resolveria o problema com folga, orçado em R$ 1 milhão, luta para sair do papel -e derrotar a mentalidade que equipara memória audiovisual a um monte de filme velho.

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