São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SBPC vai pedir ao Senado fim do Sivam

DA REPORTAGEM LOCAL

A SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) deve condenar, em documento que será entregue amanhã ao Senado, o projeto do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Em debate promovido na noite de anteontem pela entidade, professores universitários e cientistas definiram o projeto como megalomaníaco, além de destacar a série de possíveis irregularidades do contrato com a Raytheon.
Rogério Cézar de Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro do Conselho Editorial da Folha, lamentou a "oportunidade perdida" pelos cientistas brasileiros.
Segundo o professor, as empresas e os pesquisadores nacionais ficaram de fora da discussão sobre o Sivam em um momento que alcançaram o "ponto de maturidade" nessa área.
Para Cerqueira Leite, o governo sufocou o esforço que muitos cientistas fizeram nos últimos anos para estudar desenvolver o assunto.
Além de ter marginalizado os pesquisadores brasileiros, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva disse que o projeto pode comprometer a soberania nacional.
Para o almirante, que fez parte da equipe que planejou o Programa Alternativo Nuclear da Marinha, o papel de integração do sistema poderia ter ficado com um grupo de cientistas do país.
A opção pelo pacote tecnológico da Raytheon, segundo o almirante, leva à conclusão de que a comunidade científica nacional "não serve para nada".
Todos os participantes do debate fizeram questão de destacar, no entanto, que não estavam empenhados em fazer um discurso em tom nacionalista.
Segundo os cientistas, o governo poderia até contratar empresas estrangeiras e adquirir equipamentos (radares) fora do país.
O que não poderia, na avaliação dos debatedores, era deixar totalmente nas mãos da Raytheon, ou qualquer outra firma, o controle e o comando na pesquisa e instalação do sistema de vigilância.
"Podemos comprar um sistema grampeado", disse o pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Luís Miranda.
Com isso, o técnico quer dizer que o controle total da Raytheon na montagem do Sivam poderá deixar nas mãos dos norte-americanos todos os "segredos" de manipulação dos radares.
Na opinião do professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor de Programas de Pós-Graduação da UFRJ (Universidade Federal do Rio), o governo federal colocou o aspecto de financiamento do projeto acima de todas as questões técnicas que envolvem o sistema.
Por este motivo, o financiamento do Eximbank teria sido fundamental na escolha da Raytehon.
O debate foi coordenado pelo presidente da SBPC, o biólogo Sérgio Ferreira, e contou ainda com a participação do professor Jaime Szajner (Unicamp).

Texto Anterior: Famílias pedem para governo emitir atestados dos 136 óbitos
Próximo Texto: A COMUNIDADE CIENTÍFICA E O SIVAM
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.