São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 1995
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Exportação e crescimento

ANTONIO DELFIM NETTO

Os números preliminares do balanço de pagamentos dos primeiros nove meses do ano confirmam que a conta de serviços terá um déficit próximo dos US$ 18 bilhões no ano de 1995. As transferências unilaterais (basicamente remessas de brasileiros que trabalham no exterior) devem chegar a US$ 4 bilhões, o que deixa um saldo de US$ 14 bilhões.
O déficit em conta corrente será o déficit do balanço comercial somado a esses US$ 14 bilhões. O déficit comercial deverá aproximar-se dos US$ 3 bilhões. Isso deixará um déficit em conta corrente da ordem de US$ 17 bilhões.
A situação modificou-se no segundo semestre do ano. Só no primeiro semestre o déficit em conta corrente foi da ordem de US$ 12 bilhões, ou seja, alguma coisa parecida com quase 4% do PIB, que era claramente insustentável. A redução do segundo semestre é consequência do reconhecimento dos equívocos implícitos na exagerada sobrevalorização do real e da violenta queda do nível de atividade imposta pela constrição de crédito para protegê-lo.
Devemos terminar o ano com um crescimento do PIB próximo de 4% (quando se estimava 6% no início do ano), com uma inflação em torno de 20% (o que é um excelente resultado), mas ainda com uma taxa de juro real absurda. Os indicadores hoje existentes mostram que a "aterrissagem suave" está nos levando a um crescimento da ordem de 2% ou 3% em 1996, visivelmente insuficiente para resolver qualquer um de nossos problemas.
Esses números mostram que com o ritmo atual de crescimento de nossas exportações (7% ao ano) dificilmente pode-se pensar numa aceleração do crescimento (para alguma coisa entre 5% e 6%), com razoável liberdade de importação (com tarifas adequadas e sem as incertezas atuais), porque isso levaria rapidamente a um déficit insustentável em conta corrente.
Ora, se temos de crescer mais e com maior eficiência, é preciso importar mais. Logo, ou resolvemos esse problema ou a armadilha em que nos meteu a política cambial vai significar o impasse de uma política de "stop" and "go".
A idéia de que o estímulo à exportação deve ser feito pela redução do custo Brasil é perfeita. Mas quanto tempo levaremos para reduzi-lo? E se isso for feito com "concessões competitivas", o risco é de uma valorização temporária, ainda maior do real. Por outro lado é claro que o aumento da produtividade é necessário, mas o que importa é o diferencial do aumento da produtividade entre o Brasil e seus parceiros.
Estamos longe do equilíbrio sustentável em conta corrente, que exige um superávit comercial de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões, mas com níveis crescentes de exportação e importação, não com a estagnação das exportações ou redução das importações.
Para ter uma idéia do esforço exportador necessário, basta considerar o seguinte: nossas exportações em 1995 serão da ordem de US$ 48 bilhões e as importações da ordem de US$ 51 bilhões. Se em 1996 as importações ficarem constantes, qual o aumento de exportação necessário para produzir o saldo de US$ 6 bilhões? Nada mais nada menos do que 19% (57 dividido por 48). Infelizmente, com a atual política econômica isso parece ser coisa apenas para coreano ou chinês!

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