São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 1995
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"Não é Sopa" mostra o gosto pela crônica

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

"Não é Sopa - Crônicas e Receitas de Comida", de Nina Horta, cronista gastronômica da Folha, namora a culinária, mas quer mesmo é ficar com a literatura.
O livro é a prova de que a gastronomia vai além das quatro paredes de uma cozinha. Tem mais cores, sabores, aromas e humores que o calor de um fogão pode proporcionar. Passa longe do burocrático receituário de comidas.
"Não é Sopa" chega às livrarias esta semana e marca a entrada da Companhia das Letras na gastronomia, área em expansão no mercado editorial brasileiro. Reúne crônicas publicadas na Folha em dois períodos (entre 1987 e 1990 e de 1993 até hoje) e em 1991 em "O Estado de S. Paulo".
Não se trata de um livro de receitas, embora elas até apareçam, aqui e ali, mas sempre longe de qualquer sequência de pratos ou refeições. "Não é Sopa" se dedica às crônicas e as receitas servem para ilustrá-las.
"Comida de Alma", texto que abre o livro, por exemplo, traz seis receitas. "Comedores Solitários e Suas Batatas", apenas duas. E "Simples Prazer" então? Nenhuma. E por aí vai.
Nina, em sua pequena rebeldia, não quis ficar contando receitas. Mesmo no jornal, nunca aceitou o esquema "receita comentada" das páginas de gastronomia. Quer sim é contar casos de família, anedotas de viagem, filmes que viu, livros que leu, pratos que comeu. São histórias completas, saborosas, no ponto. Agora reunidas e prontas para serem devoradas.
Como em "Páscoa, Pão e Chocolate", em que conta a resignação que se abateu sobre ela depois de ter dado um coelho de verdade para o neto na Páscoa. Ou em "Valdirene", em que narra a iniciação da nova empregada, "astronauta do São Francisco", nos secretos domínios da cozinha. Crônicas recheadas de humor, espalhadas nas 365 páginas do livro (leia alguns trechos abaixo).
Em algumas delas, Nina se torna o arauto da cozinha brasileira, mas, cosmopolita que é, sabe bem onde escolher o melhor tempero "garam masala" de Nova York ou o melhor restaurante italiano de Londres. Em outras, sai em defesa de amigas, conhecidas ou inspiradoras: Daisys, Doras, Dulces, Gertrudes, Lauras, Marthas, Meetas, Elizabeths e Lauras. Sabe ainda relacionar anonimato e Greta Garbo e rimar peneiras e maneiras.
As palavras são seu mérito maior. Nina Horta faz risoto com elas. Liga sujeito e predicado com açúcar, acentua proparoxítonas com chocolate.
E entre uma crônica e outra, pipoca uma receita, que pode ter a brevidade de um hai-kai, como a de "Meia de Seda" (1 lata de leite condensado, 2 latas de vinho do Porto, 1 lata de licor de cacau. Bater tudo no liquidificador) ou a autoridade de um "Ulisses", como a de "Frango Quente do Meu Jeito", adaptada de uma receita original do chef francês Daniel Boulud e que cobre quase uma página com seus ingredientes.
Para desgosto de seus fãs, pelo menos em dezembro não está prevista nenhuma sessão de autógrafos de "Não é Sopa". Proprietária do bufê Ginger, Nina trabalha muito este mês com as festas de fim de ano. Diz que tem vergonha, mas que talvez a perca e faça um lançamento em janeiro.

Livro: Não é Sopa - Crônicas e Receitas de Comida
Autora: Nina Horta
Preço: R$ 27,00 (365 páginas)

LEIA MAIS
sobre livros de gastronomia à pág. 5-11

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