São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 1995
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FHC e a imprensa

As repetidas manifestações de irritação do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, para com o trabalho da imprensa na investigação de supostas irregularidades cometidas durante sua gestão não condizem com o seu passado.
Sem chegar ao exagero de dizer que a imprensa é o "Quarto Poder", é inegável que não existem democracias sólidas nos países em que não há livre imprensa ou em que ela é extremamente dócil.
Sem cair no extremo do ministro que mandou um jornalista plantar batatas, FHC não esconde sua irritação diante de algumas perguntas em que ele, sabe-se lá por quais mecanismos psicológicos, vê alguma insinuação desairosa à sua conduta. É bem verdade que existem jornalistas pouco hábeis para formular questões e mesmo maldosos.
De qualquer modo, FHC -se, ao que tudo indica, nada tem a esconder- deveria ver o jornalismo investigativo como um seu aliado, não como um estorvo a ser tolerado por força de lei.
Como o demonstram os recentes episódios envolvendo o governo, o presidente tem dificuldades em controlar até alguns de seus mais próximos auxiliares. A PF parece atuar por conta própria. BC, idem. Assim, a imprensa investigativa -menos afeita (embora não imune) a intrigas palacianas do que aqueles diretamente ligados ao Planalto- pode até ajudar o presidente ao revelar e tornar públicos eventuais descaminhos por que enveredam alguns de seus auxiliares ou órgãos a ele subordinados.
FHC, como vítima que foi do período em que os jornais foram calados, deveria lembrar a importância de uma imprensa livre e atuante, mesmo quando comete erros.

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